domingo, 12 de setembro de 2010

Happy Feet, Um Retrato Social

"- Mano, ensinar-lhe-ei a cantar. Primeiramente ache um sentimento. Pode ser feliz ou pode ser triste. Pode ser até um sentimento de solidão. Está sentindo?
- Sim!
- Ótimo, agora libere-o. Seja Espontâneo!!! Sinta a emoção. Ela é tão grande que preenche o corpo todo. Ela precisa escapar se não você explode!" - Trecho adaptado do filme "Happy Feet"

Título Original: Happy Feet, 2006
Direção: Austrália, George Miller

Atualmente, qual é o maior problema do ser-humano pós-moderno/pós-revolução industrial/ pós-publicidade? Sim, concordo que é uma pergunta aberta demais, visto que inúmeros problemas criaram-se após a conceituação de Modernidade, da Revolução Industrial e da criação do marketing publicitário. Para falar a verdade, esse problema vem de muito antes da Idade Média. Porém, limitei a questão apenas a "Pós-Modernidade", pois foi quando passamos a ser Alienados Conscientes. Ou seja, temos consciência que somos alienados, gostamos de ser alienados ou pior, criticamos esta alienação, mas nada mudamos ou fazemos.  Quando aparece alguém disposto a ir de encontro à estas idéias, este é criticado, desacreditado e pré-conceituado. É muito mais fácil seguir um modelo já pré-concebido e formulado e, de vez em quando, culpar entidades superiores místicas pelos problemas existentes. E o filme deste meu final de semana exemplifica muito bem essa questão: Happy Feet, O Pinguim.

Segundo o dicionário, Alienação pode ser considerada a "Perda da razão". É o estado em que uma pessoa que, tendo sido educada em condições sociais determinadas, submete-se cegamente à valores e instituições oferecidos sem questioná-los e entendê-los, perdendo assim a consciência de suas reais necessidades. Happy Feet é a exemplificação do contexto social atual. Em uma nação de Pinguins-Imperadores que possuem o canto como principal característica e modelo de Status/Aceitação Social, o pinguim Mano diferencia-se DANÇANDO alegremente no estilo Sapateado Americano moderno. Em uma viagem, conhece uma outra espécie de pinguins, onde DANÇAR é visto com bons olhos, uma grande referência que o diferente para um, pode não ser tão diferente para o outro. Ao retornar a sua comunidade confiante de si mesmo e enfrentando o sistema vigente, os pinguins mais tradicionais culpam-no pela escassez de peixe, argumentando que "O Grande Guim", ser místico, estava furioso. Mano então, parte em uma viagem para descobrir o porquê do sumiço dos peixes.

A escolha do Pinguim-Imperador não foi por acaso. O comportamento desta espécie em especial vai de encontro à estrutura do sistema social que herdamos à milhões de anos dos mamíferos mais antigos, onde a vulnerabilização da fêmea pela gestação coloca o macho como protetor da familia. Após a postura do ovo, as reservas nutricionais da fêmea estão fracas. Cuidadosamente ela deixa o ovo com o macho e regressa ao mar durante dois meses a fim de alimentar-se. O macho com a sua bolsa ventral, aquece o ovo durante os 65 dias até o seu rompimento e a chegada da fêmea. Ou seja, enquanto o macho incuba o filhote, a fêmea sai para alimentar-se e encher suas reservas nutricionais que, posteriormente, irão alimentar a cria. A estrutura reversa do conceito de "Familia" adotado durante séculos.

O filme responsabiliza quase que diretamente a instituição mais influente no contexto mental: A Religião. O pinguim velho Noah Elder é o ancião e líder da comunidade, que utiliza a imagem de um Deus dos pinguins denominado "O Grande Guim" nas orações, pedidos e na explicação da escassez de peixes. Preso a tradição, se contradiz entre o que sabe, o que acredita e o que deve passar a comunidade. E, dessa forma, controla o pensamento da população de Pinguins-Imperadores. Na primeira viagem de Mano, ele conhece uma outra espécie de pinguins, que tem como líder religioso um Pinguin-Guru chamado Amoroso. A construção desse personagem foi interessante pois lembra-nos muito a pregação de alguns pastores de igrejas evangélicas. Possuidor de um amuleto - que posteriormente descobriremos ser um lixo de origem humana que ficou preso no pinguim -, afirma ser intermediador das entidades dívinas para com a população. O pagamento para favores divinos é um seixo - pequeno pedaço de rocha o qual os pinguins utilizam no processo de acasalamento - . Após o pagamento tem direito a uma pergunta, a qual é respondida de forma vaga e distorpe.

O Homo Sapiens representa o Conhecimento. "Conhecimento" metaforicamente falando, claro, não sejamos pedantes. Ao procurá-lo, Mano resolveu o problema da escassez de peixes e derrubou a instituição "Religião" comandada por Noah Elder. No filme, o CANTO é utilizado como representação do Status Econômico/Publicitário, onde a importância do indivíduo dá-se por meios externos de demonstração.  A DANÇA é a quebra dessa questão por mostrar-se interna e um sinônimo de ESPONTANEIDADE. É a ação externalizada de uma vontade ou característica interna. É o MOVIMENTO em contraponto à estaticidade, alienação e padronização de um comportamento produzido pela indústria que "produz produtos".
"Happy Feet" também pode ser interpretado como um filme que critica o preconceito à homossexualidade, já que utiliza de pinguins no enredo - Ave de habitos homo-afetivos - e mostra uma relação pai-e-filho conflituosa em relação as preferências do filho à dança. Memphis, pai de Mano, culpa-se por ter cometido um "erro de criação" que tornou Mano um dançarino. Durante a incubação, o ovo de Mano escapou de seus cuidados. Este processo é muito comum nos casais dos Pinguins-Imperadores "reais". Quando isso acontece, a cria é imediatamente afetada, já que o ovo não suporta as baixas temperaturas do solo. O legal é que este ocorrido não criou uma "Maldição" como descrito no filme, mas um DOM.

De antemão, aviso-lhes que tudo o que escrevi não é oficial. São interpretações minhas-minhas que não garanto serem de intenção dos criadores do filme. Tenho mania de assistir filmes com olhar de "Há um contexto, há um objetivo", assim como fiz com os filmes O Anticristo (clique aqui)Laranja Mecânica (Clique Aqui) O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (Clique aqui).

O filme uniu Cinema e Dança, duas coisas que sou completamente apaixonado e formam-me como pessoa. Vale a pena assisti-lo!

TRAILER - Happy Feet

4 comentários:

Anônimo disse...

Boogie Wonderland!

Anônimo disse...

Boogie Wonderland!

Tha. disse...

Oies tudo bem? Nossa agora eu que demorei pra responder e você que não deve lembrar da onde eu venho kkkkkkkk desencontros. Eu lembro de você sim, adoro seus posts e esse em especial pq quando assisti a esse filme saí com uma sensação boa, de uma volta a infância quando toda história tinha uma moral, né? Gostei muito. Mostra como é importante aceitar e acima de tudo respeitar as diferenças. Ah! seu comentário no meu blog, adorei!!!! Obrigada. Acharia dignissímo receber abraços pós leitura, sabia? kkkkkkkk :D Fiquei toda feliz que você leu vários deles, obrigada de verdade. Embora eu tenha a impressão que os textos mais recentes perderam um pouco da ternura de antes, vou esperar sua volta pelas bandas de cá tá? :p
Beijão Cláudio e ótimo final de semana pra você.

Carla__ disse...

Esse filme é lindo!