"Quando o dedo aponto para o céu, o imbecil olha para o Dedo."
Título Original: Le Fabuleux Destin d'Amelie Poulain, 2001
Direção: França, Jean-Pierre Jeunet
Em 2002 nasce um dos personagens mais carismáticos do Cinema: Amelie Poulain. Com cinco indicações ao Oscar (Melhor filme de língua estrangeira, Roteiro Original, Fotografia, Direção de Arte e Som) e com grande potencial, não empapou-os devido a presença de Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel. O francês Jean-Pierre Jeunet cria uma incrível alegoria sobre as dificuldades de relacionamento em um retrato de solidão quase que infantil - alegoria essa quase não perceptível aos olhos menos sensíveis - mostrando aproveitar da vida frente as pequenas coisas. Fantástico.
A vida da francesinha Amelie Poulain (personagem que alavancou a carreira de Audrey Tatou, 'O Código DaVinci') muda radicalmente ao encontrar uma antiga caixa de objetos infantis, um tesouro de 40 anos atrás. Empolgada, assume a missão de encontrar o dono dessa caixinha e, caso ele se emocionasse, dedicaria a sua vida a ajudar as pessoas. Caso não... Bom deixa para lá. No decorrer da película, vemos um incrível mundo de personagens que, juntos, formam uma única personalidade: A Nossa.
"O Fabuloso Destino de Amelie Poulain" é um retrato da solidão e do medo de encarar a vida. Na história temos Amelie Poulain, filha da Sra. Poulain - uma mulher fria com espasmos nervosos (Representação da solidão tão forte que atinge o corpo físico) - e o Sr. Poulain (um intervalo glacial, a solidão acontece tão internamente que assemelha-se a um zumbi). Amelie não frequentou a escola devido a uma doença do coração (Alegoria ao apartamento afetivo e dificuldade de relacionamento).
Já crescida, vemos que ela decide dedicar a sua vida a ajudar aos outros, denotando altruísmo. Na verdade, o verdadeiro siginificado é o medo de encarar a realidade. Amelie resolvendo as confusões psicológicas dos outros personagens, foge das dela própria. É um mecanismo de defesa e a intenção de fazer algo em sua vida que vália a pena, pois sua infância passou e não fez nada que tivesse importância. Podemos ver isso no diálogo abaixo:- Pobre Princesa Diana, como é triste morrer tão jovem e feliz. - Diz a balconista
- Se fosse velha e triste teria menos importância? - indaga Amelie
- Sim, vide Madre Tereza de Calcutá.
E é nessa intenção de encontrar a si mesmo que nasce a alegoria mais legal do filme: O Album de fotos. Amelie apaixona-se por Nino, que coleciona fotos jogadas fora e encontradas no lixo, colocando-as em um grande álbum, como um álbum de familia de pessoas desconhecidas. Cada retalho forma uma foto, uma personalidade, uma persona de Nino. Ao decidir rasgar a foto, o seu dono estava negando sua imagem. Parcelas negadas do nosso ego. Ao uní-las, Nino cria uma versão deformada dos outros, ou seja, as pessoas são retalhos de nossa opinião. No album, uma mesma pessoa aparece doze vezes, e Amelie acredita que seja um fantasma que não quer ser esquecido e simboliza a sua vontade de ter uma experiência que dê continuidade a sua imagem. Temos 20, 30 ou 40 anos e o que fizemos de significativo em nossas vidas? Em frase do personagem escritor do filme "A Vida é um ensaio interminável de um espetáculo que nunca acontecerá" ou "Sem você as emoções de hoje são apenas pele morta das emoções do passado" ilustram.
As dificuldades de relacionamento entram também no âmbito amoroso. No medo de tentar e descobrir o amor, Amelie por meio de brincadeiras e jogos infantis faz com que Nino descubra-a. A primeira vez que tem um contato maior com Nino, é em seu trabalho, no Trem fantasma, que também representa o 'enfrentar os medos'. No campo familiar frente a um pai ausente e frio, Amelie menciona que "teve duas crises cardíacas e sofreu um aborto pois estava usando Crack". A representação de como as pessoas sujeitam-se a coisas que lhe fazem mal apenas para ter a atenção dos outros: Fere o coração, usa do sexo e das drogas. Tudo isso cria um terceiro altér-ego de Amelie, Dufayel, um idoso que tem uma doença de ossos quebradiços: "Até mesmo um aperto de mão poderia quebrar-lhe os ossos", a personificação da sensibilidade e de como um convívio social bruto pode vir a machucar seu interior.
A cada vez que assistimos à um filme o interpretamos de uma forma diferente. Sempre vi "O Fabuloso Destino de Amelie Poulain" como uma história positiva de ver a beleza das pequenas coisas da vida. Hoje, vejo-o como uma experiência de auto-conhecimento. Não sei se essa foi realmente a intenção do criador da história ou coisas de minha cabeça, mas pude perceber o quanto o medo de enfrentar o mundo e as pessoas lá fora, limita meu crescimento interno. Temos que descobrir mais, tentar mais e arriscar mais, só assim nossa vida terá sentido. Por que é das pequenas vitórias diárias que esta vida adquire esse sentido. E o medo está dentro de mim.
Filmes Relacionados: Clube da Luta, Persona, O Silêncio e Identidade.
Por Cláudio_DeLarge
(Dedico à Rafael Aurichi, uma grande oportunidade que perdi por medo de arriscar)
10 comentários:
Meeeeeeeeu q viagem. e pior que tudo faz sentido. Arrasou!
Esse filme é tão lindo. Simplesmente o adoro. Mas é carregado de simbolismos.
O texto está pefeito, como sempre.
Parabéns!
Aaah Amelie, a predileta! *--*
Eu já disse como gosto do modo... carinhoso, cuidadoso e BOM que você escreve! Hahah!
Beeijo!
Como eu nunca assisti esse filme? Seu blog já virou leitura obrigatória na minha vida. ahahah
Texto incrível... Achei o seu blog hoje pesquisando uma quote desse filme no Google. Dei sorte; pelo visto eu não vejo um blog tão bom há algum tempo (usei o "pelo visto" pois ainda não parei pra ler as outras postagens haha).
Amo esse filme. Costumava virar noites assistindo ele repetidamente antes de me extorquirem o DVD, e, como você disse, a cada vez vinha uma nova visão geral, ou uma nova visão sobre algum detalhe específico, e acabei tendo as mesmas conclusões suas. Mas a maneira que você soube escrever essas conclusões me impressionou; simplesmente tirou as palavras da minha boca. E ainda me surpreendeu com o detalhe que me intrigava, mas não tinha chegado a alguma conclusão - a indignação da protagonista ao perguntar sobre a importância da morte da Princesa caso ela fosse velha e triste.
Agora vou parar pra ler o resto do seu blog... Como é tenso quando estamos no meio da madrugada, naquela insônia, e aparece algo tão interessante para se fazer HAHA.
Adorei a forma como você tratou o filme. Seu olhar critico me surpreende.
Concordo com os seus comentários acerca do mesmo. O filme é repleto de simbolismo, os quais a olhos menos atentos (criticos) passam despercebidos.
Temos sim que ter um parecer das coisas à nossa maneira, pois ao ler uma obra,ver uma fotografia, um filme, uma música, ou qualquer outro meio onde um discurso qualquer esteja presente, vamos ver coisas diferentes, pois tivemos vivencias diferentes e condicionaremos tal discurso a isso. Nada deve ser tido como estático e permanente.
Já perdi a conta de quantas vezes assisti à esse filme, que é um dos meus favoritos, pois sou bastante parecido com a Amelie.
Ah, sou grande fã do seu blog. E dos textos que já tive o prazer de ler, não me decepcionei.
Paul,
Poxa, valeu pelo comentário. Vi seu coments em minhas atualizações e até reli meu texto. Eu viajo, haha. Cliquei no seu nme e você não tem perfil.
Poxa, nem para eu comunicar-me contigo de alguma forma... :)
Um abraço!
Cláudio,
Até gostaria, mas sou chato e sem graça. Faz pouco tempo que iniciei-me no maravilhoso mundo literário e cinematográfico... Desse modo, você parece-me inacessível.
Abraço ;D
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