"Mas balé é coisa de menina", disse a filha da moça que limpa a minha casa. Ultimamente, quando um ambiente mostra-se confortável, quero conversar com todo mundo e sobre os mais diversos assuntos. Se tem algo que me deixa radiante, é um desconhecido sorrir ou puxar conversar descompromissadamente. Incendeia-me uma agonia quando eu estou no elevador e meu acompanhante desconhecido não é lá muito receptivo. Minhas opções são: olhar os números mudarem a cada andar trafegante, ou olhar para baixo. Nem que peidassem, mas eu preciso de um barulho. Enfim, enquanto eu falava-e-falava dos passos que aprendi no sapateado e no balé, e minha diarista evangélica ouvia-e-ouvia, uma menininha catarrenta me diz que "balé é coisa de menina". Eu, de mãos dadas com minha enorme amiga "Intransigência", quase formulo um debate psico-social com uma menina de 5 anos. Como ela não entenderia, dei um chute na cara dela com um passo echappé no melhor estilo... Tá, mentira, eu não faria isso, até por que não aprendi o echappé. Porém pergunto-me o porquê do preconceito no balé masculino. E respondo.
Basicamente, a estrutura do balé defini-se em: postura ereta; uso da rotação externa dos membros inferiores; verticalidade corporal; disciplina; leveza, harmonia e simetria.
Para a psicóloga M. Strey, sexo não é gênero. A determinação de gênero frente ao sexo é construída socialmente. Fisicamente falando, ser macho não significa ser um homem e ser fêmea não significa ser mulher. Físicas são as diferenças sexuais, mas o gênero depende de como a sociedade vê a relação que transforma um homem em macho e fêmea em mulher. Ficou confuso? Conforme já expliquei no post Estudo: O Gay Efeminado (Clique Aqui), o conceito 'macho' vem de uma ética moral herdada dos primeiros animais mamíferos, onde a gestação vulnerabilizava a mulher e transformava o homem como responsável da família. De acordo com a teoria dos "Papéis Sociais", de Begger, a sociedade que determina o que somos e o que fazemos. Ela molda as expectativas e as formas desejáveis de comportamento. Além disso, Begger afirma que a 'Dignidade' humana é uma permissão social. Um menino que faz balé e é pré-conceituado como Gay, é afetado em sua consciencia fazendo-se perguntar "Será que sou gay por fazer balé?". Teoricamente falando, parece simplista, mas isso acontece muito. Algo como "Virei gay por maioria de votos".
Quem conhece essa dança, sabe o quão a virilidade e preparo físico são importantes. Na Russia, quando o jovem ganha uma bolsa para Bolszhoi, é uma festa na família. Tudo isso comprova a questão cultural da dança. Será que o menino, ao escolher não fazer o balé, chegou sozinho a conclusão que esta dança é de mulher? Em minha sala de aula, dos 16 alunos, apenas 3 são meninos, menos de 20% de sua totalidade. Destes 3, apenas um é homossexual. Maurice Bejart, um famoso dançarino francês, disse que balé é dança masculina. "Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar. Balé não é mulher e balé não é só dança. Dançar é humano. Demasiadamente humano."
O SEGUNDO SOPRO, DUO MASCULINO
"..Por fora , a leveza do movimento , a suavidade do passo ,a tranqüilidade do sorriso...
...Por dentro, o peso da cobrança, a persistência, o nervosismo, a dor...", Poema "Pontas".
3 comentários:
Diga-me um defeito seu...
Estou louca para te ver dançando para eu me apaixonar mais ainda
Muito bem escrito.Autenticidade acima de qualquer questão.
De quem é a foto?
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