domingo, 20 de junho de 2010

Os Deficientes

"O Que Pedro diz sobre Paulo, diz muito mais sobre Pedro, do que sobre Paulo" - Jung

Aula de Fotografia durante a entrega de trabalhos. Os alunos dirigiam-se ao professor com os seus respectivos pen-drives a fim de passar-lhe o trabalho de fotografia. Eu já havia entregado o meu e, enquanto eu esperava os outros alunos apresentarem rapidamente seus respectivos trabalhos ao professor, fiquei conversando com uma colega de sala. Ela possui gagueira e aparência levemente deficiente. É interessada, simpática e comunicativa. Durante a aula, quando quer fazer algum comentário da matéria, os outros alunos mostram uma evidente impaciência e começam a conversar entre si.

Sempre tive mais facilidade na interação com as mulheres. Sou pavorosamente tímido no começo, mas muito comunicativo e sempre rodeado de amigos. Enquanto converso, tenho a mania de tocar no receptor. Mexo nas mãos ou nos cabelos. Bagunço-os, faço massagem ou carinho. Tudo inconscientemente e durante a conversa. Com essa minha colega, não foi diferente. Conversávamos de diversos assuntos, enquanto isso, bagunçava o cabelo dela e o meu. Tirava fotos, fazia cosquinhas, levantava a lapela do casaco. Tudo com a maior naturalidade e normalidade possível. Após alguns minutos recebo uma mensagem do Rafael, meu amigo: "Para com isso, você está nos assustando." Quando olho para a minha 'panelinha', eles me olham com olhar de reprovação e apontam para um lado da sala. Ao olhar, os outros estavam rindo.

Arrumo a minha amiga e vou em direção a panelinha.
- O que houve? - pergunto confuso
- Você está zuando a Alessandra frenta toda a sala. - responde minha amiga Vanessa
- Claro que não, eu tô brincando com ela assim como brinco com você. Eu não brinco assim com você, Vans?
- Sim, Brinca, mas nós te conhecemos e sabemos que você não faz por mal. Já a sala toda não pensa dessa forma. Eles estão rindo Dela, não Com ela.

Ontem a Alessandra me ligou para explicar um acontecimento referente a mensalidade da faculdade. No término do assunto ela agradeceu-me por tratá-la de um jeito que ninguém tratou-a. Disse-me que ela sentia-se bem por fazer parte de mim.
- Você parece que tem açucar, Cláudio, todos querem estar ao seu redor. Comigo não é assim, parece que eu sou fedida - e termina a frase não com tristeza, mas com uma gargalhada alta e gostosa.

O acontecimento da aula de fotografia fez-me pensar muitas coisas. Muitas vezes mostramo-nos complacentes com a diferença alheia. Solidários com a deficiência próxima. O próprio termo "Deficiente" já é feio:  Ausência ou disfunção de eficiência. Concordo que temos de ser complacentes com a diferença, mas não podemos resumir as pessoas a ela. Tratei a Alessandra da forma como trataria qualquer um, de forma natural. Vi a Alessandra além da gagueira e ela mostrou-se à mim muito mais a 'Alessandra' do que à qualquer outro. O problema nos olhos alheios não era eu descabelar uma mulher, mas eu descabelar uma mulher "deficiente". Por isso escolhi a frase de Jung para iniciar este post. Eles, julgadores, zuariam a Alessandra, e utilizaram-me como filtro. Alguns indignaram-se, mas como todo julgamento parte da interioridade do proprio julgador, muitos julgaram a si mesmo naquele momento, apenas não perceberam.
Quem eram os deficientes naquele momento?

"SSSTUTTER" - Curta-metragem sobre gagueira produzido por estudantes da Vancouver Film School.

"Caso você encontre alguém que tenha gagueira, apenas seja paciente e exercite um pouco sua compreensão com alguém que é apenas um pouco diferente." - Hannah
Por Cláudio _DeLarge

2 comentários:

Anônimo disse...

Vc eh um 'fofo'. Vc sempre disse para im que tinha q parar com uma mania de ficar tocando nas pessoas q muitas nem gostavam disso. mas muitas tbm precisam disso.

Aline disse...

Eu era um dos deficientes sabia?