domingo, 20 de junho de 2010

Eu sou o Outro

Nos Quem Sou Eu do Orkut ou nos discursos clichês e pobres falados por aê, os indivíduos mostram-se "originais" ou de personalidades únicas. "Sou o que sou e não o que dizem", "Foda-se a sua opinião sobre mim", "As Criticas não me abalam e os elogios não me elevam". Essas frases pobres também podem ser faladas ou expressadas de um modo mais pedante. Comunidades de músicas folk, Cinemas Europeu ou psicanalistas famosos tambem são um exemplo. Muitos afirmam a própria personalidade como unica. Consideram-se 'Coringas', mas por quê? O que as faz pensar que não necessitam do outro para formar a própria personalidade? Somos o Outro. Até o fato de eu não querer ser como você, já faz a minha personalidade formar-se à partir de você. Você é o meu "Não Ser".

René Descartes marcou a filosofia moderna com uma frase muita conhecida: "Eu penso, Eu sou". Logo, deriva da interpretação de que eu sou uma coisa que pensa. O Outro é um produto do meu pensamento. Se o meu pensamento é parte do meu Eu Sou, logo O Outro é uma parte de mim. Sempre concebo O Outro através de minha interioridade, o que faz com que O Outro seja algo de minha criação, ou seja, eu mesmo. Isto não ocorre apenas em nossa interioridade, mas tambem em nossa exterioridade: "O Inferno São os Outros", disse Jean-Paul Sartre. Nossa consciência percebe-se no ato de perceber os outros. Díficil? Serei mais simples: Nós só podemos constatar que existimos através do outro. Vou dar um exemplo de algo que aconteceu comigo ontem: Reunimo-nos eu e três amigas minhas, Nayara, Natália e Katerine. Para matar as saudades, assistimos videos que gravamos à cerca de dez anos atrás, na época do ginásio. O Primeiro video assistido era o de um amigo secreto. A Nayara, que estava no video, não lembrava deste dia, perdeu-o completamente na memória. Já a Katerine lembrava-se deste dia como se fosse ante-ontem. Ou seja, a Katerine é a "prova" e constatação que a Nayara existia nesta época. Época esta que nem mesmo a Nayara lembrava-se da existência.


"...o outro me olha e, como tal, detém o segredo de meu ser e sabe o que sou; assim, o sentido profundo de meu ser acha-se fora de mim, aprisionado em uma ausência; o outro leva vantagem sobre mim / Sou experiência do outro: eis o fato originário." (SARTRE,1999, p. 453)

As frases famosas acima se comprovam e, ao mesmo tempo, se diferenciam. Enquanto Descartes afirma a existência do Outro através do nosso Eu - O Outro é um produto do meu pensamento - Sartre afirma que é através do Outro que existimos. O Outro é o Inferno, por isso a relação é sempre conflituosa. Conflituosa, digo, por que implica posse. O Outro Possui-me por que ele esculpi-me e me vê de um jeito que eu mesmo jamais me verei e, talvez, de um jeito que muitos me vêem, mas que eu não tenho conhecimento desta Visão.

A partir desta questão que entendo a necessidade de muitos de namorar-namorar. No post passado recebi um comentário de um amigo virtual, Rafael Aurichi. No comentário pude entender bem que O Outro é o principal responsável por fazer-me ter diversos sentimentos. Somos como Frankstein, pedaços de muitos. E o que eu quis dizer com todo esse é texto é que Dependemos do Outro para formar nossa personalidade. Criticas nos abalam e elogio nos iludem, sim!

- Cláudio, agora me explica o porquê deste Post confuso?

Ontem, faleceu o papai de uma das minhas melhores amigas. Um homem alegre, divertido e acolhedor. Eu e mais minhas outras amigas acompanhamos-a na cerimônia de cremação. Visualizar o corpo imóvel próximo a mim, combinado com o choro de minha amiga foi de uma incrível dor. Foi a partir dalí que percebi que estou Vivo, no sentido literal da palavra. Até então, talvez eu não tivesse consciência total do meu 'Viver'. Perguntei-me o que fiz de Grande em meus vinte anos de idade. Não obtive resposta.


"É triste, mas as pessoas precisam morrer para lembrarmo-nos que estamos vivos" - Virginia Wolf em "As Horas".

Por Cláudio_DeLarge

2 comentários:

Luiza disse...

Se eu pudesse dizer uma palavra que mais combina com você eu diria SENSIBILIDADE.
Bjs

Tiatira disse...

Acho a massa a forma como vc desconstrói alguns pensamentos meus.