domingo, 17 de julho de 2011

Como assim, ele não gosta de você?

Fora, pé-na-bunda, bota: Várias são as maneiras de metaforizar o ato de ser dispensado. 
"Ser dispensado". Este é um verbo deveras desconfortável. Ainda mais quando você está envolvido no predicado, ou seja, você é o dispensado. O recusado. O rejeitado. O dramático. Muitos podem simplesmente pensar que "Foi ele quem perdeu. Otario. Quem é o próximo?". Outros, entristecer-se ou acomodar-se com sua situação de "Ele era muita areia para o meu caminhãozinho mesmo. Fiquei chateado. Vamos para o próximo?". Porém, há ainda aquele grupo de pessoas que pensam "Como assim, ele não gostou de mim? Mas por que?". Estas, são as piores.

Fotografia de Sebastián Gherrë
Há dois meses atrás, você encontra um lindo menino de cabelos cacheados louros e olhos verdes em uma balada. Você aborda o menino. O menino, gentilmente, diz que gosta de negros. O primeiro fora da sua vida. Ele não interessou-se por você só por que você não é negro. Ufa! - Pelo menos foi o que você interpretou para não chatear-se.- Um mês depois, em outra balada, você vê um lindo menino de cabelos ondulados louros e olhos verdes. Vamos tentar outra vez? Aborda, conversa e... beija. A primeira vez (na vida) que ocorre uma abordagem por sua iniciativa. Nunca sentiu-se tão orgulhoso! Você pensa "Funciona, todos deveriam tentar mais." Funciona tanto, que o menino apaixonou. Mandava-te mensagens diariamente, presentes e queria sair novamente. Ele não gostava de cinema francês e ia na BALADA FLEXX. Você, depois de muitas recusas sutis e telefonemas ignorados, recusa categoricamente e é chamado de:
1. grosseiro;
2. metido;
3. burro;
4. escroto. 

Hunf, menino babaca e infantil esse. Então você ignora-o.

Empolgado, começa a fazer isso mais vezes. A tequila ajuda na tomada de iniciativa, porém atrapalha na organização das frases dentro de sua cabeça a fim de linearizar uma conversa antes do abate. A segurança e a auto-confiança, então, estavam em alta. Até a semana passada...

Viajando pelo mundo virtual você percebe que não tem mais certo affair no facebook. Preocupado, você então pergunta gentilmente o que aconteceu, via inbox. No dia seguinte, na expectativa de receber uma resposta, o perfil dele não existe mais. 
Posteriormente, descobre que você foi ignorado. Sim, ignorado. 
Por que? 
Não sabemos! Ninguem sabe. O desespero toma conta de seu coração. "Oh! Céus, por que me rejeitas". O menino rejeitador, então, nunca pareceu tão interessante. De um dia para o outro, o menino não tão bonito, não tão interessante e não tão inteligente tornou-se o cara perfeito. "Como ousas, rejeitar-me?", pergunta-se novamente. E aquilo te consome. Confessemos, você já rejeitou outros tantos mocinhos. Rejeitou convites, telefones, os ignorou, não deu uma satisfação direta, mas isso não aplica-se a você. Você é bonito, cabelos ondulados, simpático, um tanquinho, todos elogiam e tem um gosto de cinema invejável, no alto de seus 21 anos. Como assim, ele não gosta de você? Se ele não gostou de você, por que não disse isso quando estava beijando a sua boca, rebolando no seu pau e não deixando você ir embora de tanto que te beijava? Como assim? Como assim, ele não gosta de você?
Eu tenho a resposta. Ele é um:
1. grosseiro;
2. metido;
3. burro;
4. escroto. 

Pois é, amigos. Dá mesmo raiva quando alguém não gosta de você. E não dá para querer que a pessoa sinta raiva de si mesma por não gostar de você. O desgraçado que me excluiu do facebook tem o direito de não me achar interessante, assim como eu também tenho o direito de não curtir o mocinho da FLEXX.
Não sei se vocês perceberam, mas esta história aconteceu comigo. Aprendi com meus erros e queria dar uma moral para essa história...
Aliás, FODA-SE. Uma voz interior berra: "Direito PORRA nenhuma. Gosto de cinema francês e não vou na FLEXX. Ele deveria ter conversado mais comigo para ver o quanto sou interessante..."

Todos temos nossas inseguranças. Todos temos nossa auto-confiança abalada. Todos temos o direito de não gostar de um outrem, sem um motivo racional. Como minha amiga Joyce disse:
"- Cláudio, você não é tão legal, bonito ou simpático quanto você acha que é ou o quanto as pessoas ao seu redor dizem que você é. Eu te amo, eles te amam, mas tem pessoas que podem simplesmente não gostar de você por não gostarem de você. E a vida continua. Acorda, seu ególatra!"

Conclusão?
1. Menino da FLEXX, você é um babaca por me tratar desse jeito.
2. Will, você é um babaca por não gostar de mim.
3. Portanto, na babaquice, fazemos um excelente triangulo amoroso.

Kaiser Chiefs - Everyday I Love You Less and Less

8 comentários:

Santiago. disse...

Nada melhor do que utilizar o bom humor nesses momentos. Não sei se você já percebeu que 9 em cada 10 vezes, são pessoas que não nos interessam os a ficar 'apaixonados'. O tal do amor a 'primeira vista' tem uma probabilidade mínima de acontecer, infelizmente... E quando não, aquela pessoa que você está de olho, te ignora (tou nessa situação, só não fui ignorado ainda - se eu for -, porque também ainda não tentei). Mais faire quoi? C'est la vie!

Joyeux disse...

hahahahaha, que megera essa joyce!

você disse que começou a gostar dele quando ele te rejeitou, logo, ao meu ver, não era ele, era a rejeição.

por que nos apaixonamos tanto pela rejeição, freud? por quê?

Anônimo disse...

Transformando pedantismo em humor...

Só voce mesmo.

Anônimo disse...

É bom ser ignorado, né. ;D

C. Junior disse...

Estou recebendo uma chacota lá nesse comentário acima, olha só!
É amigues, agora apaixonar-me-ei pelo individuo acima, que me chacota e não se apresenta...
Vida bandida!

Xxx disse...

Saudações, Cláudio...

hehehe... nem sei o que comentar... mas gostei do post... hehehe... te fez bem tentar elaborar tudo isso em texto? Interessante refletir sobre estas vivências nas quais os outros nos mostram quem somos, não?

Abraços!

Kleber

As Tertulías disse...

Que Blog maravilhoso! Amei!!!!!!!

Natália disse...

"Transformando pedantismo em humor."
Porra, se aqui fosse o facebook eu curtiria.
Amigo, percebe que a única coisa que você faz quando se relaciona com alguém é projetar no outro. E daí que você gosta de cinema francês? VOCÊ gosta, você admira, você queria que o outro te admirasse. Em nenhum momento você estabelece relação, o outro não existe aí, não dá pra tratar as pessoas feito platéia.

Momento - hoje eu acordei terapeuta. Beijos.