domingo, 19 de junho de 2011

Não sei por que dizem 'dormir juntos', quando, na verdade, o sono nos separa

"O amante poderia ser assim definido: uma criança de pau duro: assim era o jovem Eros."
E assim disse Roland Barthes.

Ele está logo na primeira fileira de sua sala de aula. Não tem muitos amigos. Ele é meio magricela, usa óculos, cabelos milimetricamentes arrumados com um sutil topete, é inteligente e anda como se fosse ser atacado a qualquer momento. Meio corcunda, com a cabeça baixa e com medo. Ele é assim, desse jeito, como são todos os personagens solitários que sofrem bullyng na escola. A diferença é que ele não virá a ser um assassino em série. Pelo menos não até este texto ser escrito.

Agora ele tem doze anos e continua sem amigos. Chega da escola e arranca as folhas do caderno, para passar a limpo e deixar o caderno mais bonito. Mais organizado. Mais perfeito do que qualquer um da sua sala. Burrinhos!
Completou semana passada dezesseis anos e ainda não tinha amigos. Começou a assistir todos os filmes da locadora. Começou com os besteirois americanos e agora assiste Clássicos para tornar-se mais interessante. Mais organizado. Mais inteligente do que qualquer um da sua mente.
Anteontem, com vinte anos, descobriu-se gay enquanto transava com um homem. Alias, teve certeza que era gay enquanto gozava em uma cama inflável e recebia uma gozada no rosto, próximo ao seu enorme nariz que não mudou no decorrer dos anos. Era o nariz mais avantajado. Mais chamativo. Mais desproporcional naquele rosto branquelo e ainda com espinhas. Espinhas tinha, amigos não.

Ontem ele foi assistir um filme em um cinema alternativo meio escondido. No final da sessão, foi abordado de forma agressiva por um homem bonito. Tão agressivo que era bonito. Tão bonito que ele teve ódio. Tanto ódio que transou com ele. Tantas transas que foi penetrado. Penetrado por um pau circuncidado que iniciava-se em um saco escrotal firme e com poucos pêlos. Pêlos negros e de suporte a veias verdes e salientes, pulsando à uma glande rosada e contundentemente rija.  Primeiro foi penetrado por este rapazelho. Segundo, por um pedaço de espelho. O sangue escorria pelas costas, talvez derivado do figado. Talvez da mente. Demente.

Quando acordou, estava na sua cama. Do lado direito, uma mulher nua e gozada. Do lado esquerdo, um homem nu e alcoolizado. Ele, de vinho alcoolizado. De vinho gozado. Nu. Ao olhar no espelho, estava muito mais bonito. Mais organizado. Mais interessante. Mais cruel.

Aos vinte e dois anos, daqui a algumas horas... alguns dias... alguns, será dolorosamente sádico.  Dolorosamente humano. Dolorosamente sadío. Feliz. Ele em sua arrogância necessária e em seu nariz avantajadamente charmoso.

"Minha maior ambição é tornar-me imortal para que, logo em seguida, morresse." - Quote Acossado


3 comentários:

Guilherme disse...

conheço aquela epígrafe.

Anônimo disse...

a bem da verdade, parece uma fábula pós-moderna em que o patinho feio vira é cisne negro.

Anônimo disse...

Essas mutações.