2006, Agosto:
Caminhando lentamente em direção a minha casa, lá estava ele do meu lado. Um dia depois do término do nosso namoro, ele decidiu ir me buscar na escola. Tentava convencer-me a todo custo que nunca mais me trairia e passava as mãos constantemente nos cabelos. Eu já tinha visto e entendido a sua intenção em passar as mãos nos cabelos toda hora. Seus pulsos estavam com cortes grossos de gilete recem feitos. Olhava-o com um aperto no coração, mas aliviado por transferir a culpa do término. Eu simplesmente não sentia mais nada por ele e, durante uma discussão a fim de "darmos um tempo" motivada por mim, ele deixou escapar a traição na segunda semana de namoro. Uma mistura de alívio e raiva consumiram-me. Alívio por não sentir-me culpado por ter que acabar com o namoro, mas com raiva e chateado pela traição.
Conheci-o pela internet. Encontramo-nos no shopping e, duas semanas depois, estávamos namorando. Meu primeiro namorado menino. Meu primeiro Pênis. Minha primeira balada gay. Minha primeira constatação de homossexualidade. De maneira nenhuma o seu pai poderia saber de sua condição homossexual. Sua mãe tinha desespero de nosso namoro. Em hipótese, ele tenha se encantado com minha preocupação pelos estudos e gosto "inteligente" de cinema. Protegia-me. Tinha medo de que algo me acontecesse. Quando descobriu que queriam me bater na escola pela descoberta de minha orientação sexual, propôs que ele e os amigos me buscassem na porta da escola. 1,85 cm, 20 cm mais alto que eu, mais forte e com complexo pela barriga não ser tão definida. Amava-me de verdade. Via-me como frágil, mas o frágil era ele.
Familia desestruturada, Pai violento, alcoolatra e adultero, mãe omissa. Um coração infantilizadamente grande. Amava-me. Apresentou-me Killi, Silvetty Montilla e era fã de Harry Potter. Apresentei-lhe "Laranja Mecânica", Portishead e o cinema clássico. Após o término, quis sumir da vida dele. Achei que a minha distância ajudaria-o a me esquecer. Eu coloquei a culpa em cima dele. O término do namoro foi por que eu não sentia mais nada por ele, não pela traição. Admito que fiquei com raiva, já que o menino não era nem mais bonito, nem mais inteligente, apenas mais 'liberal sexualmente'.
Um dia encontrei-o no metrô. Admito que reconheci-o pois os olhos infantis e o nariz de batata não mudaram, mas estava completamente diferente. Cabelos longos, roupas pretas e rasgadas com um ar de 'roqueiro gótico vou te bater, seu viadinho'. Não fui conversar com ele não por medo dele, mas de sua reação. Todos os amigos dele que chegaram a conhecer-me posteriormente, simplesmente me odeiam. Eu não estou brincando. Certa vez uma menina, ao descobrir que eu era o "Cláudio", simplesmente me pegou pelo colarinho. Não fazia idéia de quem ela era. Dei-lhe sofrimento sem saber. Talvez inconscientemente. Queria que ele me entendesse.
Minha prima tem uma amiga, a qual viajou conosco este carnaval. Esta, é amiga dele. Pedi que ajudasse-me na aproximação com ele. Sinto-me mal por saber que alguem me odeia. Sempre parti da premissa que não há utilidade em ficar brigado com alguem. Muitas vezes engoli o orgulho. Esta é minha meta.
Falando em carnaval, minha cabeça rodopia por horas. Alegria desenfreada, pulei muito, dancei, mergulhei na piscina, dancei descalço e sem camisa por uma rua lotada de pessoas. Uma vitória pessoal, visto que desde meu ultimo assalto na penultina terça-feira, contrai uma fobia de público que me 'trava' ao sair de casa. Tudo bem que era no interior de São Paulo, em Águas de São Pedro, há 20 Km de Piracicaba. Senti-me liberto. Vivi para fora e parei com minha constante vigilância interior. Tenho duas metas importantíssimas para mim, as quais podem soar infantis:
1° Reconquistar a amizade do ex-namorado.
2° Amenizar minha vigilância interior. Preciso errar, preciso levar um fora de um menino bonito, preciso tirar notas baixas, preciso beijar mais, preciso arrumar um namorado e não um 'Professor de Português e Antropologia', Preciso me libertar e preciso decidir se deixo o cabelo crescer enroladinho ou cortá-lo arrepiadinho. Preciso não ter medo de ser como a grande maioria e poder dançar conforme a música que tanto tocou no meu carnaval.
"Comigo é na base do Beijo
Comigo é na Base do Amor,
Comigo não tem disse que me disse,
Não tem chove e não molha
Deste Jeito que eu sou."
ULTIMA COISA: Um beijo e um olhar admirado à uma colega: Elenita Rodrigues saiu do BBB por pecar na enorme transparência de seus sentimentos e pontos fracos. Torço por ela.
Enfim, falei muito e não falei nada. Só vomitei tudo!
Mudar de personalidade não é falta de opinião, mas inteligência de não limitar-se. Sorte a mim!
Por Cláudio_DeLarge
7 comentários:
nteressante, e de certa forma revelador; mas acho que é bobagem minha mesmo.
Posso te ajudar com alguns pontos da segunda meta, haha.
Bjo
Me surpreendi com a música. Foi meu hino de carnaval 2010 também...
Eu entendo essa questão de mudança, acho que já fui mais parecido com você, e te dou todo apoio do mundo... Errar pode ser uma alternativa de encontrar novos acertos.
Um grande beijo! Muita sorte pra ti!
sinto muito delarge que vc tenha esses atritos e essa antipatia gratuita de seu ex-namorado e primeiro mor gay de sua vida, abço e torço para que consiga reconquistar a amizade dele a tanto perdida!
Porra, Cláudio! (no bom sentido uhahuahuahuahu!)
Também tô tentando uma reaproximação com um "ex", que não é beeem ex mas enfim, depois lhe conto sobre.
Espero que esteja mais 'tranquilo' em relação a si mesmo. Eu estou auhauhaua
AAH eu assisti Laranja Mecânica! Huahuahuah!
Beeijo!
Fico feliz que tenha aproveitado o carnaval aqui, acho que se mostrar como realmente é não lhe trouxe nenhum problema, ao contráro, lhe trouxe outros amigos que o admiram mto, e não falo apenas de mim mesma ;)
Vc vai alcançar suas metas, alias, eu tambem tenho a mesma 2ª meta que você... sei como é se auto-policiar inconscientemente...
Um grande beijo, e um abraço muito apertadoo !!
" Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi. " Trilha sonora das minhas metas, e acredito servirem pra você também.
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