terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Viver a Vida

"A vida é composta de prazeres pequenos. A felicidade é composta desses pequenos sucessos. O grande vêm muito raramente. E se você não colecionar todos estes pequenos sucessos, o grande realmente não significará qualquer coisa." (Norman Lear)

A Tetraplegia é quando uma paralisia afeta as quatro extremidades (Superiores e inferiores) juntamente a musculatura do tronco. Ou seja, quando há uma lesão medular, não há uma comunicação dos impulsos voluntários do cérebro com toda musculatura do corpo. Além disso, não possuiremos sensibilidade na pele. Isso é muito perigoso, pois como não há comunicação do cérebro com a musculatura e nem com as sensações cutâneas, pode acontecer feridas na pele e incontinência (descontrole) de urina e fezes. O indivíduo fica dependente e, o mais dificil no tratamento, é a consciência de que ele pode evoluir seu quadro, mas nunca poderá andar novamente.

A Novela "Viver a Vida" está contando a história de Luciana (Aline Moraes), uma modelo mimada que, ao sofrer um acidente, perde todos os movimentos. A sensibilidade com a qual o autor conduz a história é real e emocionante, mas o mérito vai totalmente a Aline Moraes. Não gosto de novelas e não as assisto, mas "Viver a Vida" prendeu-me a atenção. Só havia chorado em duas cenas de novela: Quando Carolina Dieckman corta os cabelos devido ao tratamento de quimioterapia em "Laços de Família" e o beijo apaixonado dos personagens de Bruno Gagliasso e Marjorie Ostiano no ultimo capítulo de "Caminho das Indias" (Normalmente só assisto os ultimos capítulos). O tema em questão já foi abordado já em "Menina de Ouro" e "Mar Adentro".

Porém o grande diferencial desta trama é a identificação. Aos 13 anos fiz uma cirurgia de coluna devido a escoliose. Foram oito horas de cirurgia, dezoito dias internado, um corte de 32 centímetros levados 50 pontos. Eu encontrava-me em um estágio avançado, por isso, caso algo não acontecesse como planejado, poderia perder o movimento das pernas. Um colega de trabalho, havia morrido na mesa de cirurgia. Deve ser esse o motivo de sempre eu chorar nas cenas em que Aline Moraes interpreta a Luciana. Eu poderia estar no lugar dela. Em uma cena onde, pela primeira vez, ela fica sentada em frente aos familiares, solta a frase "Eu nunca pensei que algo tão simples fosse me fazer tão feliz". Enquanto ela dorme, sonha com o acontecimento que sentiu a maior felicidade que já havia sentido, corria ao ar livre com o irmão, sentindo a textura da areia nos pés e o vento em seu rosto. Parece demagogia, mas eu choro em todas as cenas. Desde a descoberta de sua condição até as pequenas sensações que sua pele aceita. A felicidade intensa está ali pelo simples motivo de ter forças para ficar em pé. E poderia ter acontecido comigo.

A felicidade é algo abstrato e imensurável. Todas as coisas que nós achamos que nos trarão felicidade, ao alcançarmos, a olhamos de um ângulo mais amplo e percebemos como o impacto foi pequeno em nossas vidas. A formula da felicidade é complexa, mas simples [Anh?] e você já deve ter ouvido várias vezes: Prestar mais atenção nas pequenas coisas, como a felicidade nos encontros de finais de semana com a familia, os encontros descompromissados com os amigos, a sensação de comer um chocolate (ou poder comprá-lo), etc. Não deixar que a preocupação do amanhã e a saudade do ontem atrapalhem o aproveitamento do seu hoje.

No filme "Menina de Ouro" a simbologia de entrar de cabeça no mundo no boxe significa que nada cai do céu e que a vida é agressiva e perigosa. Depois de minha cirurgia, fiquei com uma corcunda do lado direito. Ela é perceptível e, por muitas vezes, tinha vergonha dela. Na balada, cobria-a com minha camiseta. Até que um dia em que olhei-me no espelho e percebi meus olhos e minha boca. Meu sorriso. Meu peitoral e minha barriga definida. Minha bunda e minhas coxas. Meus olhos transparecendo como eu sou feliz. Acordo todos os dias as 5h e chego em casa as 22h. Durmo 4h por dia, mas faço questão de acordar com um sorriso no rosto e segurar quantas bolsas for necessário quando estou sentado no metrô.

A Luciana me fez perceber que minha corcunda não é uma deformação, mas uma espécie de troféu por ter vencido a cirurgia e a lembrança de dar valor as pequenas sensações. Ela é um grande exemplo que é das pequenas vitórias diárias que a existência adquire sentido.

CENA ONDE LUCIANA CONSEGUE SENTAR-SE - 02/12/2009


"Se for para chorar, que seja de alegria" - Veríssimo
Por Cláudio_DeLarge

2 comentários:

Unknown disse...

Meu pai sempre foi um homem feliz com as pequenas coisas da vida. Ele gostava do contato com a natureza, de andar e correr, viajar (ainda mais quando dirigia quilômetros), fotografar passarinhos livres, apreciar música boa, fazer atividade física... Eram essas coisas que faziam bem pra ele.
No dia que ele recebeu o diagnóstico que estava doente, mesmo com o baque, disse que estava disposta a enfrentar sem medo tudo o que a doença traria. Quando voltou pra casa, conversamos rapidamente e ele me disse para vivermos cada dia, sem pensar muito no futuro e nas dificuldades que viriam.
Hoje, ele sobrevive, apenas. Deixou de viver, de ter qualidade de vida faz tempo. É totalmente dependente, não pode sequer fazer um movimento de cabeça. E nem sorrir. Mas ele continua aceitando tudo sem revolta e dizendo (ou fazendo sinais enquanto soletramos letra por letra) que tudo nessa vida tem um propósito e todos temos nossa missão.
Por isso, eu também choro muito quando vejos cenas dessas, quando assisto uma história parecida com a dele. E é por isso que passei a dar muito mais valor à minha vida nos últimos tempos. :)

Natália disse...

Vocês são meus exemplos de que a vida vale sim a pena!