sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Quanto Dura o Amor?

"Não fique com ele. Ele é do tipo que te iludirá falando coisas bonitas. Levar-te-a para cama e depois te tratará mal. Ele só quer te comer..."

Esta conversa no MSN veio a minha cabeça. Ele estava ao meu lado apenas de cueca enquanto eu fazia cafuné em seus cabelos.
- Você só me quer pelo sexo? - Perguntei, sem expressão.
- "Sexo é a manifestação física do prazer que eu sinto de estar com você". Frase boa, né? Vou até anotar. - Ele levanta rapidamente com um sorriso safado não tirando os olhos de mim. Desvio o olhar para a televisão com a cabeça em outro lugar. Relembro o dia que o conheci.

Há quase três anos que nos conhecemos, mas eu nunca tive interesse. Não havia motivo específico. Talvez fosse pela aparência que nas fotos não me agradava, pela sua reputação que não era a das melhores entre meus colegas - "Não fique com ele. Ele é do tipo que te iludirá falando coisas bonitas. Levar-te-a para cama e depois te tratará mal. Ele só quer te comer..." - ou pelo medo de sempre de achar que todos são assassinos em potencial e poderão me matar. Faltando uma semana para terminar minhas férias, decido almoçar com ele.

Chegando 10 minutos atrasado, visualizo-o em pé na frente do lugar combinado: Um café na travessa da Avenida Paulista. Mais alto e encorpado que eu imaginava, despertou meu interesse. Beirando aos 30 anos, cabelos louros e olhos verdes. Tinha uma postura que dava-lhe um aspecto robusto e forte. Sua escolha foi um restaurante francês com uma música ambiente que me fazia cantarolar enquanto ele falava. Dizia-se sincero, inteligente e 'bonzinho'. Mostrava constantemente o interesse por mim e o quanto esperou pelo momento de me conhecer. Eu e minhas mão limitavam-se ao copo com suco de tangerina que escolhi. Queria, mas não consiguia confiar em suas palavras.

Terminamos e ele insistiu em pagar a conta. Enquanto andávamos, ele falava coisas que me despertaram uma certa confiança. Acabei sendo convencido a subir em seu apartamento a fim de ver um vídeo que ele tanto insistiu em mostrar-me. Seu apartamento mostrava-se luxuoso e básico. Talvez sua intenção fosse impressionar-me com o evidente dinheiro que poderia ter, mas só conseguiu me deixar desconfortável. Sentei em sua cama macia e assisti por minutos o video o qual tanto falava. Eu estava tenso, e sabia o que aconteceria logo em seguida. Quando o video terminou pedi um copo d'agua e ele levantou prontamente a ir buscá-lo. Bebi olhando em seus olhos e logo veio em minha direção. Começou um beijo calmo e, aos poucos, deixei o beijo mais agressivo. Eu estava confuso e não sabia se continuava com aquilo ou acalmava os ânimos. Não é certo fazer sexo sem um compromisso firmado. Dane-se, eu precisava daquilo.

Pressionando-me contra a parede, pude sentir nossos pênis eretos roçarem. Tirei a camiseta e a violência com que eu o beijava, machucava minha boca a raspar em sua barba por fazer. Pegou-me no colo e quando dei por mim, estavamos de cueca. Eu queria parar mas meu corpo não deixáva. Fazendo menção de tirar minha cueca, o medo assolou-me, e fechei os olhos respirando por alguns segundos. "Isso é errado, isso é errado". Ao abrir os olhos, estávamos nús. "Quero camisinha e gel" pedi timidamente mas com uma ar de vontade e ânsia. Fizemos todas as posições possíveis e meu corpo pedia mais. Foi cerca de incansável uma hora e meia. Um sexo agressivo. Meu corpo pedia mais. "Vou Gozar" ele disse e, alguns segundos depois, senti seu peso relaxando em cima de mim. A culpa me assolava e, logo depois do banho, combinamos de nos ver no dia seguinte.

Passando os dias, ele mostrava-se cada vez mais carinhoso e ciumento. Criticava as fotos mais ousadas do orkut, sair com os amigos sem convidá-lo e exclusão de perfis em alguns sites de relacionamento.
- Quero assistir "Lua Nova" na sexta - eu disse animado
- Bobo, você estragou a surpresa. Já comprei ingressos para o sábado. - respondeu, com uma expressão decepcionada fofa. Tudo estava perfeito. Rápido demais, mas ótimo do mesmo jeito.

Quinta-feira combinamos de encontrar um amigo meu. Ao entrar em sua casa, mostrou-me uma foto minha que decidiu colocar na estante. Logo depois do sexo, ele mostrou-se ríspido e sem paciência, culpando o sono. Chegados do encontro, ele deitou na cama e mostrou-se distante. Não fiz questão de aproximar-me. Amanhecendo, abraçou-me e logo pude sentir seu pau ereto. Logo fiquei excitado alisando-o e beijando, mas fui interrompido. Após o café da manhã, começamos os amassos no sofá. "Menino, você não para? É tarado? Não posso te beijar que você já quer sexo", disse para mim, enquanto ria. Os beijos eram agressivos. Eu puxava seu cabelo e lambia seu pescoço enquanto ele apertava a minha bunda. Fomos em direção a sua cama terminando em um gozo quase simultâneo. No banho sua distância voltou. Suas brincadeiras eram ríspidas e o carinho de antes desapareceu.
- Sua atitude mudou. Seja sincero e me diga o que está acontecendo? - Disse-lhe em um tom controlado.
- Há horas em que quero ficar só, mas eu gostei muito de você e quero continuar. É um bloqueio que me trava ao deparar-me com um possível relacionamento. - Respondeu sem olhar em meus olhos.
Todo o sentimento que eu tinha por ele foi envolvido de modo automático, como uma fagocitose. Eu tinha o mesmo problema que ele. Ao ver que poderia me apaixonar e, possivelmente, me machucar, preferia ficar sozinho. Eu ia sofrer e, todo o sentimento que eu estava sentindo, concentrou-se em uma parte do peito a qual apertava-se para dar espaço. Um possível futuro com ele despedaçou-se. Eu poderia insistir e ver o quanto eu o faria feliz, mas eu sabia que poderia sofrer. Eu ia sofrer. Respirei fundo, a razão apossou-se de mim e, controlado e sem expressão, quase frio, respondi:
- Amanhã assistiremos ao filme "Lua Nova" e, se quiser, não comentamos neste assunto.

Ao chegar em sua casa, cumprimentei-o com um beijo no rosto. Meu corpo até queria beijá-lo, mas a racionalidade não conseguia um contato muito próximo. Ele estava de calça jeans e sem camiseta. Eu olhava cada parte do seu corpo e não havia mais nenhum interesse. Não eram mais tão interessantes como antes, pelo contrário. Seu sorriso deixou de ser bonito e seus olhos não tinham mais um diferencial, eram comuns. Era meu mecanismo de defesa funcionando.

Na sala de cinema do "Lua Nova", a cada palavra linda que Edwad Cullen dizia a Bella Swan, era um coro de suspiros. O nível de progesterona presente naquela sala era palpável, e eu estava tão sensível quanto. No término da sessão, dei um sorriso e olhei-o, recebendo como resposta "Nada de ficar suspirando feito viadinho. E essas adolescentes ridiculas. Precisam de um pinto". O susto deu lugar a raiva e o shopping Cidade Jardim tinha perdido sua graça.

No carro, conversamos sobre diversos assuntos. Suas brincadeiras ríspidas agora estavam engraçadas. Talvez, por que eu não importava-me mais. Não tinha mais nenhum interesse amoroso por ele, talvez um pouco sexual ainda remexia-se em minha cueca, mas principalmente, ele era um cara inteligente e legal de conversar. Antes de despedir-me, olhei-o por alguns segundos e não consegui vê-lo como um companheiro, apenas como uma companhia. Talvez tenha sido só sexo, ou talvez ele tenha sido sincero em suas palavras. Prefiro acreditar na segunda alternativa, ele era bonzinho. Talvez, daqui a três anos, minha percepção mude. Talvez.

"Escolha um bom prato, por que é a única coisa que você comerá hoje" - Frase do filme 'Sexo com Amor?'

Por Cláudio_DeLarge

7 comentários:

Lu_ disse...

Cláu, vc escreve muito bem. O texto eh longo e eu nem percebi passar.
kapokaopkaopkapoaka

s2

Natália disse...

Eu adoro como você escreve! E em relação a durabilidade do amor, acho que só permenece enquanto os envolvidos não mudem suas perspectivas, ou quando as mudam juntos.

Anônimo disse...

O amor só existe pra quem acredita nele. Fato.

L. Fernando disse...

A Natália disse tudo.

Anônimo disse...

O Amor acaba nas expectaativas, Clau.. não as crie e não se machucará.. seja feliz!! =]

Rodrigo Rocha Fortaleza disse...

Uaullll!

Fascinante ler esse texto. Me identifiquei em muitos aspectos.
A verdade é que ainda não sabemos diferenciar sensões, a espera eminente do pior nas pessoas, nos torna cada vez mais individualitas e menos propicios ao apego...
Se isso é bom? Só o tempo nos dirá...
O que sei é que sexo é uma dádiva para quem faz na hora certa, com a pessoa certa e o objetivo certo, mesmo sem sentimento...


Beijos!

Anônimo disse...

O amor acaba nas expectativas, Clau.. não as crie e não se machucará.. seja feliz!! =] [x2]