quarta-feira, 17 de junho de 2009

"A Festa da Menina Morta"

"A intolerância fecha os caminhos da compreensão, ao mesmo tempo que os da sensibilidade, caminhos aos quais só têm acesso as almas que sabem de sua semelhança com as demais." (Carlos Bernardo González Pecotche)

NOTÍCIAS DO DIA
Morre rapaz agredido no Centro de SP, após parada Gay
A Casa de Misericórdia de São Paulo confirmou no início desta quarta, 17, a morte de Marcelo Campos Barros, brutalmente atacado por um grupo de pessoas com socos e chutes, no último domingo, 14, logo após a Parada Gay, nas proximidades da Praça da República, região central da cidade.

APOGBLT divulga número de participantes na Parada Gay de SP
Pelas contas da entidade, 3,1 milhões de pessoas compareceram à Parada. Para os organizadores, a explosão de uma bomba caseira no Largo do Arouche e agressões cometidas contra algumas pessoas que acompanhavam a Parada deixam clara a necessidade da aprovação de leis que coibam gangues e atitudes homofóbicas.

Bomba Caseira explode após parada Gay e deixa 30 feridos
Na Rua Dr. Vieira de Carvalho um bomba caseira explodiu por volta das 21h, ferindo 30 pessoas. Acredita-se que a bomba tenha sido atirada por um morador de um prédio, mas até o momento a polícia não identidificou o agressor.
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Na minha 4° Parada Gay, fiquei mais convencido de que o movimento tem uma ínfima parte de cunho político e de reivindicações forte.
Havia apenas o último, e o único trio, que tentou explicar o porquê estávamos ali, chamando-nos para assinar o PLC 122/2006, lutar pelos nossos direitos com gritos de liberdade, e tudo o mais. O estranho é ter uma intenção política, solicitando respeito, isonomia de direitos e seriedade, enquanto, logo em cima dos trios, temos go go boys e Drags. Adoro tudo isto, mas sofremos preconceito justamente por sermos resumidos a individuos que fazem SEXO (não que AMAM, mas que fazem SEXO) com pessoas do mesmo sexo, e utilizar artifícios de cunho tão sexual, apaga a seriedade do evento. Deveria ter sim (em pequena proporção), mas dos 19 trios, apenas um chamar atenção e focar ao que realmente importa, torna-se uma simples micareta gay de música eletrônica.

Os eventos ocorridos, por mais tristes que fossem, são acontecimentos que ocorrem em qualquer maniFESTAção (Que de 'ação', teve-se pouquíssima) de grande proporção. Porém, se quisermos mesmo lutar pelos nossos direitos e pela criminalização da homofobia, é mais eficiente e inteligente organizarmos um ato realmente político, mas não deixarmos a alegria (Lê-se Gay, em inglês) de lado. Somente assim seriamos levados a sério.

Não virei um ativista crítico de um dia para o outro. Confesso que na parada do ano passado, fiquei alcoolizado, tirei a camiseta e a rotatividade de beijos ultrapassou 15 pessoas. Este ano, comportei-me, por que tinha mais noção do intuito do evento. Porém, de todas as notícias divulgadas na internet e em jornais, quantas falavam sobre feridos, os 412 atendimentos médicos, a quantidade de ococrrênciaa, e quantas divulgaram a PLC 122/2006 e a isonomia de direitos?

Um amigo contou-me que, ao voltar à Paulista no domingo, 14, foi surpreendido por um transeunte que disse "Caramba, hoje somos os reis da cidade". Realmente, é uma sensação fantástica ter um dia para ser você mesmo, mas é necessário um pouco mais de três milhões de pessoas pulando e gritando para mudar alguma coisa.

"Não devemos ter medo dos confrontos. Até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas." - Charles Chaplin

Luto,
Marcelo Campos Barros

Cláudio_DeLarge

4 comentários:

Anônimo disse...

Alguns comentários:

1 - Uma coisa muito séria... Qual o problema de Drags em cima dos carros?? Os Go go boys realmente acho estranho, mas as drags DEVEM estar lá. Elas, os transformistas e transexuais são os grandes responsáveis pela dimunição do preconceito. Porque com seus estilos extravagantes, aparecem na midia e "dão a cara p bater". Fora isso, a Parada é para eles/elas também!!!
Eles também merecem respeito. Dos heteros e PRINCIPALMENTE nosso respeito.
O preconeito está basicamente no desconhecimento daquilo que se vê. É chocante para heteros verem casais do mesmo sexo se beijando. Essas pessoas extravagantes, como as drags, levam a cultura gay para o mundo hetero, que aos poucos passa a aceitar todos os homossexuais, inclusive nós.
Ah... Vi menos gogo boys do que os anos anteriores, mas acho que tbm pode ser por falta de grana este ano, rs.

2 - Estou sentindo cheiro de boicote... A PM me parece que deixa a coisa acontecer, as brigas e assaltos, e a mídia só tem mostrado a parte violenta... Isso me preocupa, porque quando a mídia quer derrubar alguma coisa, ela consegue.

3 - Sim, a Parada é mais festa do que protesto. Mas acredito que aos poucos isso tem mudado.
Não esqueçamos que a festa da Parada gay atrai heteros, que passam a conviver melhor com os homossexuais.
Mas realmente tá muita bagunça...

4 - Eu tenho certo orgulho em dizer que no total de sete Paradas fiquei SOMENTE com uma pessoa.
Contabilizando... Em uma beijei um cara X, em outras duas eu estava acompanhado já (uma delas namorando) e no restante não fiz nada, porque realmente não estou lá para isso.
Não é porque quero passar alguma imagem (afinal, santo eu não sou mesmo, rs). E sim porque é natural eu estar lá e não querer fazer essas coisas, o intuito não é esse.
Também não bebi em nenhuma Parada (e eu gosto de beber).
Este ano passei o evento todo com meus QUERIDOS e AMADOS amigos, depois fomos para o Frei jantar, barzinho e Lôca. Aí sim comecei a beber... Porque o contexto era outro.

5 - Não quero atravessar a Paulista de mãos dadas fazendo um protesto silencioso por respeito. Acho legal a idéia dos trios, das fantasias e de figuras IMPORTANTÍSSIMAS, como a Rogéria e Leão Lobo, que foram e são fundamentais na diminuição do preconceito.
Não o Clodovil, que passou a vida toda falando mal da homossexualidade.
Mas sim o Leão Lobo, por exemplo, que se assume gay, de forma extravagante, mas leva para o público geral um grito no meio da nossa multidão que teme ser agredida ao andar de mãos dadas pelas ruas.

Concluindo, concordo que tem muita bagunça sim, mas acho que aos poucos conseguiremos misturar a festa com um protesto civilizado.

Beijos,

Com carinho,

Rafa.

Lidia disse...

Todo evento de grande proporção tem os prós e os contra e naum sei se concordo com o cara do comentario. Como a própria Marta disse que os tempos atuais estão ficando mais conservadores. Naum queria que a parada fosse um retrocesso.

Luuu_ disse...

ainda num tenho uma opinião formada. Soh sei que sou tão indecisa quanto vc... aikaopakapoka!

Paulo Ricardo disse...

Eu entendi o seu ponto de vista, e concordo PLENAMENTE. Os eventos tem se preocupado com a multidão, com o quao longe eles podem ir e quao grande eles podem ser, e estão esquecendo do porque estão lá... Esse seu blog TEM que ser divulgado e suas palavras tem que atingir mais pessoas. Adorei!