sábado, 25 de abril de 2009

"O Clube dos Corações Partidos"

“Cuide bem do meu coração, por que agora ele é seu”.
Depois que estas palavras saíram dos lábios dele, tive que respirar profundamente para conter o queimor que subia pelo meu tórax, passava pela garganta provocando um incômodo fechado que me obrigava a sorrir deliberadamente e a fechar os olhos para curtir esta sensação. Até quando eu fechava meus olhos, era ele quem eu via. Vinha-me na memória, ele sentado com postura elegante frente ao piano, tocando concentrado “Clair de Lune”, ou até mesmo minha preferida, “Moonlight Sonata”, de Beethoven. Não sabia se olhava para o movimentar de seus dedos nas teclas, seu peitoral seminu na camisa azul aberta, seu sorriso torto ou seus olhos cor-de-mel olhando-me de esguelha na expectativa de me agradar. Olhos abertos ou fechados, lá estava ele. Hálito doce junto com aquela língua quente explorando minha boca davam-me uma louca vontade de chorar. Medo de perdê-lo. Eu escolhi a minha vida e agora queria começar a vivê-la.
E então, tudo ficou preto e os créditos começaram a subir. Acabara-se mais um filme de romance. Quase duas horas vivendo a história de amor de Bella Swan e Edward Cullen, baseado no livro que sempre está nas mãos de alguém no metrô, “Crepúsculo”.
Personagens vivem amores intensos, inabaláveis e nada mais importa. Eu agradeço que os livros e filmes de romance terminem com um beijo e um sorriso do casal. Muda minha visão do amor que presencio no cotidiano. Uma amiga do trabalho chora todas as noites, apaixonada por um homem casado. Em seu último relacionamento, o rapaz era usuário de drogas. Meu amigo da faculdade não assume seu namorado por medo de ser expulso de casa, enquanto a mulher que senta na carteira ao lado, está em seu segundo divórcio por traição.
Particularmente, não vivo uma história de amor há quatro anos. Se é que já vivi alguma. Em contrapartida, sempre tive notas excelentes em meus cursos e fui promovido quatro vezes em um ano de empresa. Ainda bem que Audrey Hepburn e Elizabeth Taylor tem sustentado bem minha carência amorosa com os finais felizes que vivenciam. Meus rápidos relacionamentos tiveram de ser interrompidos pelos trabalhos da faculdade. Trabalho feito, nota máxima tirada e... só. Eu só.
Foi lendo estes livros de romance que percebi que é preciso amar alguém. 'Preciso' no sentido de 'necessitar', porque está (muito) longe de ser 'preciso' no sentido de 'exato, conciso ou lacônico', mesmo que eles não sejam reais ou não durem para sempre.
Os trabalhos da faculdade mascaram meu medo de sofrer como as pessoas do terceiro parágrafo. Porém, foram estas pessoas que viveram momentos muito mais felizes do que eu poderia viver com notas Dez. É isso que as faz sentir-se vivas: A dor da perda de um grande amor ou o queimor no peito junto com um estranho temor.
É preciso amar para sentir-se vivo. É necessário sentir o queimor e a dor da perda. Afinal, o amor é sadismo. É Masoquista. É suicida.
Está decidido, não vou ter mais medo do Amor. Colocarei em prática esta filosofia só na semana que vem, porque tenho de entregar um relatório na terça-feira. Se bem que, próximo mês, é época de provas...
Preciso salvar-me de mim mesmo.
(Dedicado ao pretendente psicólogo. O desconhecido que não se conhece)
.

Cláudio_DeLarge

3 comentários:

Natália disse...

Dividimos esse medo gatchénho. Mas agora não quero pensar sobre as causas e os efeitos disso. Só quero sentir...

Anônimo disse...

Pretendente psicólogo?
Vc conseguiu me deixar sem jeito...

Já comecei a ler seu texto assustado, porque Clair de Lune e Moonlight Sonata eram as únicas duas músicas clássicas que eu sabia tocar no piano quando adolescente... Confesso que Clair de Lune eu sabia a primeira parte somente, rs, o resto era muito difícil.
Eu larguei o piano, :P

Sabe... É preciso amar sim, no sentido de necessitar, como vc disse... Não no sentido de obrigação.
Eu já pensei que deveria - obrigação - procurar um amor, mas descobri que não, eu tenho que viver, encontrar pessoas, e o amor nascerá com uma delas.

Eu já amei sim...
Lembro-me quando encontrei aqueles olhos doces, sinceros de vida, pedindo colo e carinho... Naquele instante fiquei admirado com o rapaz, e descobri que o amor nasce em momento de admiração.
Mas temos que aprender a amar, e ele não queria aprender...
O amor nasce meio bobo, encantado, e com o tempo se torna um amor adulto, verdadeiro, depois de ter passado por dores e sofrimento.
Repito, depois de ter passado por dores e sofrimento.
Mas só quem tem vontade e coragem de aprender a amar conhecerá esse amor maduro.

Você tem medo de amar... Eu pensava isso.
E eu também tenho.
Mas enfrentei o medo.
E enfrento até hoje.

O amor que eu vivi me fez passar um sábado inteiro com dores terríveis no peito: angústia.
Quando aquela dor me consumiu pedi a Deus para morrer, porque não estava suportando.
Não era dor subjetiva não, era dor física, no peito, que esmagava meu ser, me triturava!
Foi tanto amor, mas tanto, que quando perdido, explodiu no meu corpo e quase acabou comigo...
E pedi para morrer porque aquele amor me trouxe a vida.

E eu continuo vivo.
Não quero deixar de viver amores.
Ainda tenho medo, muito!
Mas a lembrança de abraçar alguém e querer ser um pai, um Deus, para fazê-lo feliz, mesmo que impossível, é sublime.

E o medo de amar não é somente o medo de sofrer pela perda do outro, mas também o medo do nosso próprio amor.

Quem sabe um dia nossas vidas reservem algo para nós...

Permita-me um começo:

Beijos,

Rafa.

Anônimo disse...

e ainda escreve super bem neh....nhaa


t doru
Rud