"Pegar sete caras. pegar nove 'mina'. Agente está falando de quê, catadores de lixo? Pegar, pega-se uma caneta, um taxi, uma gripe. Não pessoas. Pegue-e-leve, Pegue-e-large, Pegueeuse, Pegue-e-chute, Pegue-e-conte-para-os-amigos." - Martha de Medeiros
"O calor está gostoso, o céu está limpo e a noite está linda. Você teve a possibilidade de colocar aquela sua regata branca que marca bem o peitoral, seu cabelo está lindo e tem um bom dinheiro para beber o quanto quiser na balada. A 'sua' música que faz você vibrar quando toca na rádio recebeu uma mixagem incrível e você a dança intensamente de olhos fechados com seus amigos. Para um pouco para descansar e, do outro lado do bar está um menino muito gato. A regata preta evidencia os braços fortes, um pouco mais alto que você, cabelo preto e arrepiadinho e sorriso lindo. Ele te olha fixamente. Tem aquele jeitinho de 'hetero' que te pegaria de jeito.
Feliz e confiante, você dá um sorriso. Ele entende o recado e vem em sua direção. Nem pergunta seu nome, já te dá um beijo gostoso. Explora seu corpo todo. Beija sua boca, mordisca seus lábios, sua nuca e sua orelha. Lambe a sua orelha. Pega na sua bunda e roça o pau dele no seu, enquanto chupa o seu pescoço. Após acalmarem os ânimos, apresentam-se. Você pede o telefone dele. Ele acha melhor ficar com o seu. Seus amigos te chamam para dançar a 'música do grupo' daquela diva POP famosa. Vocês despedem-se."
Esse seria o momento e a 'pegada' perfeita para muitos que eu conheço, mas não para mim. E confesso: isso me assusta, me deixa confuso. Eu fico triste em saber que o 'momento feliz' que deixaria qualquer um feliz, não desperta-me interesse. Meus amigos mostram-se felizes e eu tenho medo por não estar aproveitando esta fase da maneira que eu deveria.
A escritora Martha Medeiros disse certa vez que boate é lugar de gente triste. Pensei. Em seus bares vendem bebidas alcóolicas, as quais nos dão um empurrão para ser aquilo que gostaríamos de ser. Dão-nos a coragem que não temos. A música alta nos dá a liberdade de cantar alto sem ser criticados. Não conseguimos conversar, só aos gritos, por isso os beijos rápidos. Não há o diálogo para descobrir o conteúdo que, muitas vezes, não se tem. Beija-se um, beija-se dois: Uma forma de auto afirmar-se. Não basta sentir-se bonito, só 'seremos bonitos' quando muitos perceberem isso. Você acha que conquistou e sente-se bonito por isso, mas nem passa por sua cabeça que você é também só mais uma conquista. Só mais um. Desinteressante demais para conversar ou ser conhecido. E é isso que eu não entendo...
Sou careta e quadrado só pode. Puritano não sou, sou daqueles que gosta de uns tapas na hora do sexo que as vezes até machucam, eu exclamo um "Ai!" e ainda recebo um "Fica Quieto". Pretendo até fazer sexo a três - com quem eu goste de verdade.
Com quem eu AME. Mas aí nasce a pergunta "Por que não beijar por impulso, apenas para satisfazer a necessidade física?" Tudo é tão fácil, acessível, disponível que perdeu-se todo o encanto, a sedução. Li certa vez no Blog da Elenita Rodrigues que toda mulher merece que um cara gaste 40 minutos insistindo, conhecendo e deixando-se conhecer antes de tentar colocar a língua na boca dela. E por que eu tambem não posso? Todas as relações tornarão-se fast food. Nossa fome de viver é tão grande que pulamos etapas importantes de um relacionamento. Matamos fases as quais poderiam tornar-se grandes histórias. Não gosto de beijos ou sexo fast-food. O Mc Donald's tem sua importância, mas é gorduroso, barato nos deixa inchados e feios e faz mal ao coração. Quero sentir o prazer de fazer uma gostosa lasanha de berinjela, uma saladinha leve ou um jantar a luz de velas que um Mc Donald's não proporciona.
Não um namoro criado depois de três semanas de ficadas. Por isso ocorre tantas traições e as pessoas tornaram-se volúveis. Acham que já estão apaixonadas uma semana depois que conhecem o individuo. Começam um namoro três semanas depois e na quarta já diz "Eu Te Amo". Ama nada. Ama por que está carente. Como não conhece a pessoa de verdade, afinal, nem deu tempo de conhecê-la, acontecem as traições. Um relacionamento é construído aos poucos e a confiança demora a ser conquistada. Você só é sincero com um pessoa que você conhece de verdade.
Pedro Bial citou Rubem Alves. "Tem muita gente peruá nesse mundo. Aquele grãozinho de pipoca que não estoura. Que não aproveita o calor do momento como os outros". Eu sou do tipo que não gosta de baladas e que assiste filmes europeus e 'velhos. Sou do tipo que escuta música clássica e fala francês. Sou do tipo que, muitas vezes, prefere ficar estudando matemática em vez de sair e beijar vários em uma balada que toque várias da Lady Gaga. Sou do tipo que lê Vinicius de Moraes, Clarice Lispector, Martha Medeiros e até Florbela Espanca. Sou do tipo que prefere um menino com cara de bobo, óculos e cabelo enroladinho do que um braços forte e barriga de tanquinho. Sinto-me perdido e com medo de não 'estar aproveitando a vida do jeito que eu deveria'. Namoro a mim mesmo e, não que eu seja convencido, mas sou muito para ficar beijando qualquer um. Quero encontrar alguém que me enlouqueça de amor. Todos querem. Chamem-me de tonto, mas este alguém não achará você sendo o indivíduo ao qual conheceu sua língua e bunda antes de dar um "Olá" sorridente e/ou tímido. E você ainda se pergunta o porquê ninguém vê o valor e conteúdo que você tem, e por que os lindos romances só acontecem no cinema...
"E o sujeito nota dez nem consegue olhar para os lados, nem se desconcentrando um minuto com pena de ver o seu mundo cair."
Por Cláudio_DeLarge
5 comentários:
"Apaixonei-me" quando disse que gosta de Vinícius de Moraes e Florbela Espanca.
Fiquei surpreso com o texto. Pode copiar e colar no meu 'quem sou eu?' Hahah, brincadeira (mas vou twittar o link, com os devidos créditos, lógico).
Adorei, do começo ao fim! Tão raro achar alguém assim. Mas discutir isso é pra uma outra hora, talvez num café, hahah!
Peço desculpas, e agradeço por mudar a imagem que eu tinha de você.
Você é brilhante.
Sinto-me fora dos 'padrões' como você, mas penso que sou correta por isso.
E realmente...é sim, muito mais interessante ficar em casa, lendo Vinícius e vendo filmes velhos.
Adorei as matérias e relatos.
Parabéns.
Pode ser impressão minha, mas sinto uma mudança de atitude, de posturas nos últimos posts.
Orgulho-me profundamente da sua pessoa.
Do Cláudio baladeiro, do Cláudio ex-baladeiro, do Cláudio cult, do Cláudio piadista.
De todos esses Cláudios que eu observo e que me fazem cultivar todos esses anos ao seu lado.
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