sexta-feira, 6 de abril de 2012

_só se é feliz quando se escreve com Z


"Tira o céu da nuvem, vejo algodão
Um vão sem ter buraco, vira chão
Deixa de ser"
- 'Descomplica', Moveis Coloniais de Acaju


Ele estava entediado e querendo ir embora dalí. Já te explico o porquê.

Tem gente que gosta de ir na casa da avó, por que tem comida gostosa, cama aconchegante e um enorme quintal. Ela te enche de abraços, deixa a TV ligada no SBT e fala que você cresceu. 
É o que dizem. 
Hoje ele foi visitar a avó e a viu que na geladeira tinha molho e maionese estragados, cama com remédio de insulina e um quintal com cheiro de cachorro. Ele não gostava muito de cachorros e gatos. Quando ele os via, tinha uma vontade lhouca de lavar as mãos. Ele também não gostava da avó.
Ele estava entediado e resolveu pegar os gizes de cera do sobrinho de quatro anos (que também foi visitar a avó - no caso bisavó). Enquanto o sobrinho brincava com o cachorro, ele pintou um papel inteiro com giz de cera de várias cores. Afinal, alguma coisa naquela casa tinha que ser colorida, alegre e feliz.
Isso, Feliz!

Uma inspiração artesanal aflorou e ele começou a recortar palavras alegres e colocar no seu desenho de giz de cera. 
A primeira foi CORAÇÃO.
A segunda PAI, a terceira CORAGEM e a quarta DECISÃO.
Ele colou uma arvore no desenho também.
Ao olhar aquela arte, considerou-a ter informação demais. Ou de menos. Enfim, não condizia com a realidade do desenho em giz de cera, então ele jogou tudo fora e só deixou mesmo a 'arvore' e o 'coração'. O tédio tinha passado um pouco, mas ele ainda queria ir embora da casa da avó, para em seguida, poder lavar as mãos.
Para finalizar o seu desenho, ele resolveu colar a palavra FELIZ.
Olhem só: Um desenho colorido, com uma arvore, a palavra coração e a palavra feliz!
Como era uma ótima ideia, começou a procurar a palavra FELIZ por entre as revistas velhas da avó.
Procurou na revista evangélica. Procurou na revista do mercado ASSAI. Procurou na revista de homens nus. Procurou até em uma EXAME de 2008.
Não encontrou.
Não achava em nenhum lugar, mas como é um garoto muito astuto, decidiu imitar os sequestradores e recortar as letras "F", "E", "L", "I" e "Z".
Encontrou a "F" na revista evangélica e a "E" na revista do mercado ASSAI. Já a "L" só achou na de homens nus e a "I" na EXAME de 2008. Mas e o "Z"?
O seu desenho estava lindo, mas não achava o "Z" de jeito nenhum. E ainda era orgulhoso demais para escrever "Feliz" com "S".
Sua irmã e sua tia perguntaram:
- Por que esta tão triste e capisbaixo?
E ele respondeu que estava daquele jeito por não encontrar o "Z". Elas, com toda a paciência do mundo, abraçaram ele e dispuseram-se a encontrar o "Z". Com essa ajuda, o "Z" foi encontrado rapidinho.

Ao colá-lo, percebeu que aquela letra "Z" era muito pequena comparada as outras letras. Estranhou de início e teve vontade de lavar as mãos. Olhou outra vez o desenho e pensou: "Poxa, o Z não é pequeno, ele tem a função de engrandecer as outras letras!". Sorriu.

O Desenho iria sofrer ainda muitos retoques, mas mesmo naquela casa empoeirada e com cheiro de cachorro, ele continuaria com a sua ideia original de sempre:
O desenho sempre será sempre colorido e com um FELIZ desengonçado nele.



Dedicado à Penelope e Glória

4 comentários:

Anônimo disse...

Tanta simplicidade e sensibilidade...

Luana disse...

Esse eh o tipo de texto que só entende que o escreveu?
kkkkkkkkkkkk
Saudades meu lindo.

Anônimo disse...

Lindo!

Luiz Esposito disse...

depois que você me explicou, achei o texto ainda mais interessante.
o que a Luana disse tem muito sentido, já que o texto, as vezes, tem mais sentido para quem escreve do que para quem lê. Até entender......

parabéns, gatinho.