domingo, 30 de outubro de 2011

_suor


O amor, quando se revela, 
Não se sabe revelar. 
Sabe bem olhar p'ra ela, 
Mas não lhe sabe falar. 
- Fernando Pessoa


O dia estava tão ensolarado que tudo que me via, sorria!
Meu edredon estava mais verde, meu chuveiro estava mais azul e até a roupa que eu vestia, que era uma regata preta, estava mais colorida do que nunca! Inclusive, a bolsa que eu nunca tinha visto, daquela mulher desconhecida, estava mais vermelha do que jamais viria a ser.

Um sol quente e agressivamente forte, também sorria. Eu cantarolava e andava quase dançando em direção ao meu destino. Os passarinhos e os esquilos começaram a me seguir e eu, inspirado, comecei a cantar como se fosse a Branca de Neve: "O-oah!".
Todos ao meu redor então, me olharam maravilhados e começaram a cantar também, fazendo passos de Jazz e sapateado. "O-oah! O-oah!"

Ao chegar na academia de dança, lá estava o meu professor. Tão bonito que até flutuava.
Após a aula, fui me despedir. Entrelacei os meus dedos nos seus cachos suados de dança, fiz um rápido movimento de dedos de vai-e-volta num cafuné contido e beijei-lhe o rosto, abraçando-o logo em seguida.
- Oh, eu estou todo suado! - Sua boca preocupada canta nos meus ouvidos num som melodiosamente sexual. Ele me olha nos olhos e sorri num tom de desculpas. Pois nem uma explosão de feromônios me deixaria tão desnorteadamente tonto quanto aquele sorriso deixou.

Não sei se fiquei dois segundos ou dois meses olhando para ele tentando concatenar as idéias. Lembro-me que logo após recordar da necessidade de respirar, sorri e em seguida respondi:
- Tranquilo, professor! Até a semana que vem...

Ah, se tu soubesses tudo que eu te digo no silêncio do meu olhar...

CET AIR-LÁ - JULIEN DORÉ (April March cover)

2 comentários:

C. Junior disse...

Pois os amores platônicos e-ou os que nunca acontecerão, são os mais visceralmente românticos.

Anônimo disse...

Todo apaixonado...