domingo, 16 de outubro de 2011

_colore minha vida com o caos do problema

"Querido Hubert,
Você é um peixe de águas profundas, cego e luminoso. Nada em águas turbulentas com a raiva da era moderna, mas com a frágil poesia de outro tempo. 
Nunca te esquecerei.
Dez anos de silêncio e dez segundos de ruído. Reconheço o absurdo da vida.
Não há outra coisa que não matar nesta vida que o inimigo interior. 
O duplo do duro núcleo.
Dominá-lo é uma arte.
Até que pontos somos artistas?"
- Extraído de "Eu Matei a Minha Mãe", Xavier Dolan

Eu tenho medo de gente.
Para ser mais específico, eu tenho medo de gente que me interessa. 
Tenho medo dos meninos de cabelo enroladinho e daqueles que entendem de cinema. Tenho medo daqueles que usam óculos, que fazem teatro ou que dançam. Ou seja, eu tenho medo de qualquer um que possa interessar-me amorosa ou sexualmente.
Quando me chamavam para sair, eu não ia.
Quando flertavam comigo eu até ficava, mas não dava continuidade a conversa.
Eu achava que era individualismo ou até vontade de ficar sozinho, mas percebi que era simplesmente medo de gente. Medo de dois tipos de gente:
Medo de gente que poderia me controlar na cama. Um desconhecido que me julgaria em corpo nú e submeter-me-ia à submissão de ser apenas um corpo. Que puxaria meu cabelo em sexo agressivo cuspindo no meu orgulho pedante. Deliciosamente excitante.
Medo de gente que pudesse fazer-me sentir vulnerável frente ao poder de controlar o meu auto-controle. Ter alguém que pudesse controlar o meu ciúmes, meu sono, meu sexo e meu orgulho. Sobrepor a emoção a minha racionalidade, tornando-me um romântico tão desesperado em uma mentalidade de adolescente apaixonado com tendências suicidas de romantismo na segunda fase.
Medo de gente. Medo de mim.

Pois no final de semana, me permiti um encontro. Daqueles contendo cinema, pipoca, braços roçando e um nervosismo de não conseguir prestar atenção no filme enquanto ensaiava a hora certa para o beijo.
Pois no final de semana, me permiti o sexual. Daqueles que vão para a casa do moço, tiram a roupa do moço, lambem tudo do moço, colocam o pau no moço e dormem abraçados com o moço.

Os moços olham para ti e dizem que és lindo e gostoso. Que tens belos cachos e belos olhos. E tu não acreditas.
O moço te vê nu e diz que és lindo e gostoso. Que tens belos olhos. E tu acreditas.
Nada como a vulnerabilidade de uma nudez descabelada e boca inchada para mostrar o quanto és belo.

Eu tinha medo de gente.

Sabe o que eu aprendi este final de semana?
Que só se é bonito de verdade, quando você se permite.


PACK UP - Eliza Doolittle (Live)

5 comentários:

Jonathan Pereira disse...

Agradecemos sua visita e seu comentário!

Fabi Nunes disse...

O medo de se deixar conhecer o outro, as vezes faz com que deixamos coisas boas passar em branco...

As Tertulías disse...

Queria ter-me adicionado como "seguidor" mas voce nao tem esta opcao no seu blog... seria legal... adorei mais uma vez esse "essay" - sim, a gente só é bonito se se permite... de todo acordo!!!!!!!!

Fábio disse...

Que texto mais delicioso de se ler

Unknown disse...

cheguei ao texto pela quote do filme, e não pude deixar de enfatizar toda a emoção do filme dentro de mim com o que você escreveu. obrigado por me ajudar a abrir um pouco mais os meus olhos. espero que a cada dia você se permita mais, viva mais, e seja mais :)