"Clube Glória, 14 de Novembro, 02:20 da manhã
O som era tão alto e contagiante que eu tinha a impressão que ele era o responsável por bombear sangue para o meu corpo. Curiosamente as batidas do meu coração equipararam-se com o Tuntstunts da balada. Alí eu sentia-me a vontade como em nenhuma outra. Rodeado pelos sofás dourados e logo abaixo de um teto especial ilustrado pela estilista Fábia Bercsek, eu dançava feito um bobo, como se não me importasse com o que pensariam. A leveza combinou-se ao relacionamento sério que estou vivenciando com o menino que inspirou o post "A Fagocitose", logo abaixo. Ele não pôde ir, mas cobrava-me, não declaradamente, fidelidade. Como eu não ia ficar com ninguem, não ligava de bancar o bobo dançarino, combinando o balé clássico com Street Dance.

Há anos eu tinha vontade de conhecer a balada Clube Glória. Considerada uma das cinco principais baladas paulistanas que inspiram editoriais de moda, junto com VEGAS, A LÔCA, THE WEEK e D-EDGE, o CLUBE GLÓRIA foi montado a partir de uma antiga Igreja no bairro do Bixiga. Possui uma decoração assinada por Fábia Bercsek e Rita Wainer e, duas sextas de cada mês, a festa é de ninguém menos que Alexandre Herchcovitch. O público é formado por alternativos, cults e fashionistas. Cabelos enroladinhos, óculos de armação grossa e um alternativismo exacerbado por todos os lados. Meus olhos brilhavam. Eu, agnóstico convicto, descobri que, se existisse céu, era alí! Porém, tudo isso cairia por terra. Eu estava comprometido e naquele momento, moralmente, nada deveria me importar.

Em 1955, era quase impossível filmar uma comédia sexual no porte de "O Pecado mora ao Lado". Isso por que o Hayes Office, um departamento de censura prévia às grandes produções de Hollywood, faziam vista grossa com roteiros, falas dos personagens e figurinos. Em conjunto com a Legião Católica, contraíram uma força de censura e manipulação midiática incrivel . Inúmeras Obra Primas atuais, foram esfoladas na época. Obras como "Gata em teto de Zinco Quente" ou "Um Bonde Chamado Desejo" eram censuradas até o talo. Embora "O Pecado Mora ao Lado" pareça inocente nos dias de hoje, na época era uma revolução sexual. Ainda mais por contar com a participação de Marilyn Monroe, que era o simbolo da mudança na moral sexual da época. A cena do metrô levantando a sua saia, que eternizou-a, infelizmente foi MUITO cortada. Os dois motivos foram: A censura do Hayes Office e a impossibilidade de uso por "falha técnica". A comoção e movimentação popular em Nova York durante a gravação da cena foi tão grande, que as filmagens ficaram inutilizáveis devido a gritaria. Joe Dimaggio, atual marido de Monroe na época, ficou tão irritado que após as filmagens os dois brigaram e, três semanas depois, ocorreu a separação. Tantos problemas pessoais e a utilização de tranquilizantes pesados não eram visíveis no sorriso travesso e sexual de Marilyn Monroe.
Billy Wilder sempre desafiava a censura. Utilizou da Homossexualidade em "Quanto Mais Quente Melhor" e o alcoolismo em "Crepúsculo dos Deuses". Em "O Pecado Mora ao Lado" utilizou do adultério na comédia, argumento proibido no Hayes Office. Decupou até não poder mais o roteiro, mas conseguiu fazer uma Obra-Prima do cinema.
Essa semana, assisti outros dois filmes, "Cartas Para Julieta" e "O Poder do Ritmo". O que eu pude perceber nesses dois filmes foi a expectativa da traição. Neles, a menina namora um indivíduo que não lhe dá o valor que merece e, então, conhece o mocinho e apaixona-se. Durante o filme, queremos que ela largue logo o namorado bobão e caia nos braços do mocinho apaixonado adultero. Nestes casos, o adultério é perdoável... Será!? Não sabemos da totalidade da história. Não sabemos o lado do namorado bobão. Na novela "Viver a Vida", queríamos que a personagem de Letícia Spiller comete-se o adultério. Irrita-me essas histórias onde a uma dualidade exacerbada do Bem e do Mal.
Não podemos julgar traições. O Adultero não é "malvado" em sua totalidade, assim como o traido não é a vítima. Não sejamos hipócritas, todos temos nossas motivações.
"Clube Glória, 14 de Novembro, 02:25 da manhã
- Oi - Ele disse-me ao pé do ouvido. A música estava alta.
- Oi - Sorri amigavelmente. Ele era lindo!
- Você dança muito bem - Sorriu
- Haha, você está me zuando? Estou dançando feito um bobo.
- De jeito nenhum. Você é lindo e dança muito bem. Está acompanhado?
- Sou comprometido.
- Ele está aqui agora?
- Não.
- Então me beija.
- Não, mil desculpas. Você é lindo mas eu gosto demais dele.
Segurei sua nuca e dei um beijo em sua bochecha. Olhei-o e sorri. Ele sorriu de volta.
Em seguida, fui ao bar comprar uma água:
- Seis reais!? Isso é um roubo!"
3 comentários:
O pecado mora em nós, amigo.
Só uma expressão: "Ô Saudade..." [leves tapinhas na barriga]
você sumiu, moço das calcinhas! =/
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