segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O Pecado Mora ao Lado

"Clube Glória, 14 de Novembro, 02:20 da manhã
O som era tão alto e contagiante que eu tinha a impressão que ele era o responsável por bombear sangue para o meu corpo. Curiosamente as batidas do meu coração equipararam-se com o Tuntstunts da balada. Alí eu sentia-me a vontade como em nenhuma outra. Rodeado pelos sofás dourados e logo abaixo de um teto especial ilustrado pela estilista Fábia Bercsek, eu dançava feito um bobo, como se não me importasse com o que pensariam. A leveza combinou-se ao relacionamento sério que estou vivenciando com o menino que inspirou o post "A Fagocitose", logo abaixo. Ele não pôde ir, mas cobrava-me, não declaradamente, fidelidade. Como eu não ia ficar com ninguem, não ligava de bancar o bobo dançarino, combinando o balé clássico com Street Dance.
No intervalo de uma música, fui atingido por um olhar. Um pouco mais alto que eu, cabelos volumosos e cacheados que emolduravam um rosto quase andrógeno. Uma camisa branca semi-aberta, calça skinny e um mocassim roxo da moda. Ele era a personificação física do meu modelo de beleza, lindo! Ao cruzarmos os olhares ele sorriu. Podia sentir seus olhos me desejando. Uma eletricidade sexual dominou meu corpo. Ele aproximou-se..."

Há anos eu tinha vontade de conhecer a balada Clube Glória. Considerada uma das cinco principais baladas paulistanas que inspiram editoriais de moda, junto com VEGAS, A LÔCA, THE WEEK e D-EDGE, o CLUBE GLÓRIA foi montado a partir de uma antiga Igreja no bairro do Bixiga. Possui uma decoração assinada por Fábia Bercsek e Rita Wainer e, duas sextas de cada mês, a festa é de ninguém menos que  Alexandre Herchcovitch. O público é formado por alternativos, cults e fashionistas. Cabelos enroladinhos, óculos de armação grossa e um alternativismo exacerbado por todos os lados. Meus olhos brilhavam. Eu, agnóstico convicto, descobri que, se existisse céu, era alí! Porém, tudo isso cairia por terra. Eu estava comprometido e naquele momento, moralmente, nada deveria me importar.

No dia anterior, assisti com a minha mãe o filme "O Pecado Mora ao Lado" (The Seven Year Itch), de 1954. Talvez você nunca o tenha assistido, mas com certeza lembrar-se-á dele. Este filme ficou famoso pela cena onde a mulher mais sexy do planeta tem a saia levantada por uma lufada de vento produzido pelo metrô de Nova York. Marilyn Monroe foi iconizada para sempre, tanto como atriz como símbolo sexual. Baseada na peça de comédia sexual escrita por George Axelrod, o filme é produzido por ninguém menos que BILLY WILDER (Quanto Mais Quente Melhor e Crepúsculo dos Deuses).

Em 1955, era quase impossível filmar uma comédia sexual no porte de "O Pecado mora ao Lado". Isso por que o Hayes Office, um departamento de censura prévia às grandes produções de Hollywood, faziam vista grossa com roteiros, falas dos personagens e figurinos. Em conjunto com a Legião Católica, contraíram uma força de censura e manipulação midiática incrivel . Inúmeras Obra Primas atuais, foram esfoladas na época. Obras como "Gata em teto de Zinco Quente" ou "Um Bonde Chamado Desejo" eram censuradas até o talo. Embora "O Pecado Mora ao Lado" pareça inocente nos dias de hoje, na época era uma revolução sexual. Ainda mais por contar com a participação de Marilyn Monroe, que era o simbolo da mudança na moral sexual da época. A cena do metrô levantando a sua saia, que eternizou-a, infelizmente foi MUITO cortada. Os dois motivos foram: A censura do Hayes Office e a impossibilidade de uso por "falha técnica". A comoção e movimentação popular em Nova York durante a gravação da cena foi tão grande, que as filmagens ficaram inutilizáveis devido a gritaria. Joe Dimaggio, atual marido de Monroe na época, ficou tão irritado que após as filmagens os dois brigaram e, três semanas depois, ocorreu a separação. Tantos problemas pessoais e a utilização de tranquilizantes pesados não eram visíveis no sorriso travesso e sexual de Marilyn Monroe.

Billy Wilder sempre desafiava a censura. Utilizou da Homossexualidade em "Quanto Mais Quente Melhor" e o alcoolismo em "Crepúsculo dos Deuses". Em "O Pecado Mora ao Lado" utilizou do adultério na comédia, argumento proibido no Hayes Office. Decupou até não poder mais o roteiro, mas conseguiu fazer uma Obra-Prima do cinema.

Essa semana, assisti outros dois filmes, "Cartas Para Julieta" e "O Poder do Ritmo". O que eu pude perceber nesses dois filmes foi a expectativa da traição. Neles, a menina namora um indivíduo que não lhe dá o valor que merece e, então, conhece o mocinho e apaixona-se. Durante o filme, queremos que ela largue logo o namorado bobão e caia nos braços do mocinho apaixonado adultero. Nestes casos, o adultério é perdoável... Será!? Não sabemos da totalidade da história. Não sabemos o lado do namorado bobão. Na novela "Viver a Vida", queríamos que a personagem de Letícia Spiller comete-se o adultério.  Irrita-me essas histórias onde a uma dualidade exacerbada do Bem e do Mal.

Não podemos julgar traições. O Adultero não é "malvado" em sua totalidade, assim como o traido não é a vítima. Não sejamos hipócritas, todos temos nossas motivações.

"Clube Glória, 14 de Novembro, 02:25 da manhã
- Oi - Ele disse-me ao pé do ouvido. A música estava alta.
- Oi - Sorri amigavelmente. Ele era lindo!
- Você dança muito bem - Sorriu
- Haha, você está me zuando? Estou dançando feito um bobo.
- De jeito nenhum. Você é lindo e dança muito bem. Está acompanhado?
- Sou comprometido.
- Ele está aqui agora?
- Não.
- Então me beija.
- Não, mil desculpas. Você é lindo mas eu gosto demais dele.
Segurei sua nuca e dei um beijo em sua bochecha. Olhei-o e sorri. Ele sorriu de volta.
Em seguida, fui ao bar comprar uma água: 
- Seis reais!? Isso é um roubo!"

3 comentários:

Natália disse...

O pecado mora em nós, amigo.

Felipe_ disse...

Só uma expressão: "Ô Saudade..." [leves tapinhas na barriga]

Paulinho disse...

você sumiu, moço das calcinhas! =/