domingo, 9 de maio de 2010

Prolixamente Simples

"Que ninguem se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho" - Clarice Lispector em trecho de 'A Hora da estrela'.

Amigos - Vsh, 'amigos' não. Bem sei que nem todos os leitores são meus amigos. Digo, amigos no sentido real da palavra. Aliás e, pensando bem, talvez eu nem tenha leitores. Muito menos leitores amigos. Enfim, usarei a palavras 'botões'. Afinal, acho que esse post nada mais é que uma conversa comigo mesmo, embora eu tenha a necessidade de externá-la por, de certa forma, sentir-me culpado. Muito culpado. Até por que é um caso estranho. Muito estranho. E julgo e ataco, talvez, para sentir-me melhor, ou não, já que Isto que contarei todos o fazemos: Mulheres e Homens heteros, tiazinhas e tiozinhos e os que não fazem sexo. E encontro-me em um destes grupos que citei. Adivinhem qual.

Desculpem parecer prolixo em meia instância. Talvez seja para adiar o acontecido. E desculpe-me tambem por usar tantos 'talvezes'. Eles bem expressam que eu não tenho certeza de nada. Só tenho uma unica certeza, a que eu não sei quase nada e nem tenho certezas. Não tenho certeza nem de minha morte. Sei que viverei lembrado eternamente. Não sei se por algum Best-Seller, por liderar um governo totalitário, uma trilogia cinematográfica polêmica ou por sê-lo um Serial Killer inteligente. Sei que nada sei. Não sei o que eu quero, sei bem o que eu não quero. Ah, e tambem me desculpem por tanto desculpar-me. Sou do tipo que se acha culpado por tudo. Desculpo-me até pelo espaço que ocupo, me culpo.

Sempre fui muito tímido. Tímido não, inseguro, confesso. Todos somos inseguros, mas eu sou muito. Sei que sou visivelmente gay. Acho que é pelas roupas ou, sei lá, a 'aurea'. Meus amigos heteros dizem que eu sou um gay diferente. Tenho lá meus trejeitos, mas não tenho uma voz nazalada ou miada. Segundo eles, minha voz é infantil, pareço uma criança falando. Talvez por isso sofro tantos assaltos. Pela minha aparência infantilmente tonta e distraída. Distraio-me muito fácil e acho que todos estão me olhando. Quando um cara me olha penso que ou ele está flertando ou quer me bater. Inseguro que sou, sempre acredito que vou apanhar. Enfim, voltando, sempre quando encontro com familiares e parentes demoro um pouco para me 'soltar'. Levo uma hora mais ou menos. Idiota! Especificamente estávamos eu e mais minha familia e parentes em um churrasco. Fartura de carnes, frangos e lingüiças. Inclusive aquelas lingüiças apimentadas que ninguém gosta mas todo mundo come para 'dizer'. Cervejas e caipirinhas, obviamente visto que era uma festa de aniversário de um tio e seus 45 anos, e um campo de futebol ao lado. Saco!

Nunca formalizei minha orientação sexual para minha familia. Mesmo sendo algo 'entre quatro paredes', todo muito cuida do rabo alheio, principalmente quando este rabo é o de um menino educado demais, retraído demais, que brincava de bonecas demais e jogava futebol de menos. Inclusive comentei durante o churrasco a vontade de comprar uma camiseta de time, dos modelos novos, e adivinhem a sugestão: São Paulo. Sempre haverá gays em times. Geralmente, São Paulo, são gays ricos; Corintianos, Gays Pobres; Palmeiras, gay ladrões e Santos, Gays velhos. Com receio de apanhar na rua, escolhi a do Real Madrid. Camisetas de times são sexies. Hm, por que estou contando isso? Devido ao campo de futebol ao lado do churrasco. Como era em um salão de festas de um condomínio, o campo era 'aberto' e outros moradores jogavam. Como o aniversariante colocou dois espermatozóides XY no útero de minha tia, eu tinha dois primos adolescentes. Mesmo eu conhecendo-os à 16 anos, levo um tempo para sentir-me confortável com eles. Passei um tempo distanciado depois que oficializei a mim mesmo a minha homossexualidade, achava que eles ficariam desconfortáveis frente a isso, mas o único idiota desconfortável era eu. Enfim, conversamos, rimos e, como homem não tem muito assunto, todos decidiram jogar bola.

O campinho tornou-se pequeno e lotado conforme iam chegando os garotos. Parecem que eles sentiam o cheiro de futebol. Abelhas em uma Coca-Cola. Moscas em um Cocô. Um Cio constante de futebol. E adoram. Sempre com suas camisetas de times e chuteiras coloridas. Todos tinham. Os adolescentes meninos da festas vinham preparados para o futebol. O moradores, já andavam com suas bolas e chuteiras. Engraçado como menino hetero não importa-se muito com aparência. Uma chuteira qualquer, uma bermuda xadrez e uma camiseta de time e Pimba. Xadrez só pode usar com camisetas lisas. Tem uns que, não satisfeitos, ainda usam listras ou estampas "Mormai-Ombomgo". Enfim, não quero parecer um viadinho-metido-a-estilista. De qualquer forma, comecei a sentir-me mais desconfortável para cada menino-adolescente-jogadordefutebol que chegava. Eu e minha camiseta gola "V" estávamos sentindo cada vez mais gays. E eu achava que todos estavam percebendo. Bebi tanta Pepsi Twist para ocupar as mãos que já estava arrotando limões. Senti-me o ponto rosa choque naquele churrasco-futebol.


O Crucial foi quando um menino tirou a camiseta. Eu não conseguia não olhá-lo. Seu rosto era mediano, mas no peitoral alto deslizava uma morenitude por uma barriga semi-definida em um leve obliquo. Os braços fortes timidamente definidos repousavam as mãos em pernas grandes, panturrilhas que me perdiam e perdiam-se em uma chuteira amarelo-fluorescente. Eu, que me distraio facilmente, perdi minha ultima lasca de concentração percorrendo o corpo dele. E foi daí que me senti muito mais desconfortável. Eu, em um ambiente familiar e exclusivamente heterossexual, não conseguia concentrar-me na conversa sobre a prima que não queriam convidar para o aniversário de um priminho meu. Achei que todos percebiam meu desconforto e resumi-me ao gay da familia.

Talvez seja a minha quase abstinência sexual que provocou isso ou, mais profundamente analisando, o meu medo de meus familiares resumirem-me ao gay da familia. Sim, é isso! Eu tenho que colocar na minha cabeça que a naturalidade parte de mim. Eles, na verdade, pouco importam-se com o que eu faço com o meu rabo agora. Eles me amam e o abraço que recebo dos meus primos é o mais importante, por que para eles, eu sou o Cláudio, e não o primo gay. Agora, só falta eu ver-me como o Cláudio, não como o primo gay.

Concluindo, sabem por que fui tão prolixo neste post? Para demonstrar a minha dificuldade na simplificação das coisas. Tudo eu analiso, racionalizo e quero saber o porquê. Para que? Isso só faz com que eu me distancie de mim mesmo. Como Macabéa em "A Hora da Estrela", dizia que "é assim por que é assim e pronto". Que tolice essa de indagar-se tanto. Indagar provoca necessidade e, quem necessita, é incompleto. Sou quase de uma galaxia longinqua de tão estranho que sou de mim mesmo. Enfim, este texto é como a prolixidade de minha mente: Faço de algo tão simples uma complexibilidade imensa. Afinal, quem nunca perguntou-se: Sou um monstro ou isso é ser uma pessoa?

Por Cláudio_DeLarge

3 comentários:

Anônimo disse...

Cara quando vc escreve parece até que esta me descrevendo e sei o quanto sentir isso é dificil. Estou sempre de olho no teu blog.

Natália disse...

Eu acho que simplicidade é uma questão de interpretação. Tudo pode ser absurdamente complexo e simples, e os dois ao mesmo tempo sem que um exclua o outro. Eu pelo menos entendo assim, vai da nossa necessidade diante da situação. Se tudo for interpretado superficialmente, a vida perde a graça. Se as coisas são porque são, devemos no mínimo nos indagar em relação a elas. Não acho que questionar demais seja um problema, pelo contrário, a profundidade é fascinante, mas torná-la esmagadora o tempo inteiro pode ser perigoso.

PS: Dava um rim pra ver você nesse jogo ahahaha

C. Junior disse...

A mesma coisa acontece na academia que estou indo agora...
Super desconfortável, haha.