domingo, 2 de maio de 2010

Carentes Anônimos

"Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão. A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe.
Aquilo que provavelmente pedi e finalmente tive, veio no entanto me deixar carente como uma criança que anda sozinha pela terra." - Clarice Lispector

Nunca concordei com as atitudes dos meus amigos no âmbito amoroso. Àlias, sempre discordo de muitos amigos meus, em sua maioria homossexuais, no que diz respeito ao relacionamento amoroso. Não sei se a culpa é dos filmes clássicos que eu teimo em assistir, onde o cortejo, a simplicidade e o sentimento sobrepunham-se ao sexo, mas não entendo-os. Àlias, entendo-os, julgo-os e, partindo de minha própria premissa, julgo-me também. São muitas informações e sinto-me diminuido cada vez mais que conheço a grandeza do mundo... e da complexibilidade das pessoas.

Lindos são os amores à primeira vista, exceto quando eles são constantes. Meus amigos tem uma estranha mania de dizerem-se apaixonados uma semana depois de conhecer o individuo. Isso quando não namoram-no em menos de duas semanas. Talvez até julgo estas atitudes como responsáveis por traições e corações partidos. Os indivíduos vêem no outro não um namorado, mas a 'possibilidade de um namorado'. A carência atual é tanta que depositam suas esperanças 'matrimoniais' na primeira possibilidade encontrada. Três semanas depois separam-se. Sempre deixando um coração partido, aquele que levou sua possibilidade mais adiante - ou o mais carente.

E por que não dá certo? Principalmente no mundo homossexual, a necessidade em ser aceito, mesmo que inconscientemente ainda é enorme, até mesmo para os que dizem-se 'não se importar'. Mentira! Tanto sexualmente como em personalidade, o ser humano tem muita necessidade de ser aceito, ainda mais no nicho sexual homoafetivo. Algo como "Sou gay, mas sou bonito e engulam isso". Por isso a procura da estética, de um corpo bonito, ou de várias ficadas/ficantes/parceiros. Já que não são aceitos, mostram-se felizes em baladas vazias. Porém, não vamos generalizar, ok?

Porém há um outro tipo de carentes. Estes são aqueles que, de tão carentes, não permitem-se aos outros. Tem medo de não serem escolhidos, aceitos ou trocados. E, acredito eu, estes são os mais carentes. Os carente-carentes que nem ao menos tentam. Estes são os mais solitários, por que não precisam. Ou acham que não precisam, mas precisam mais do que qualquer um. A coisa precisa da coisa. Quem não precisa, isola-se e nunca será preciso, consciente de si. O destino de todos será o que a carência fizer dele.

Talvez estes carentes não permitem-se aos outros por não quererem ser o refúgio de outros carentes. Talvez estes carente-carentes sejam os que mais esperam do amor verdadeiro, do Cinema Clássico. Porque querem dar a mão a um outro por amor, não por carência e solidão. Em contrapartida este carente-carentes devem aprender que, inicialmente, dar a mão ao outro pareça ser sua grande solidão, confundida com carência, Mas não, poderá ser o início do amor. Entenderam?!

Lembremo-nos que o melhor relacionamento é aquele em que o amor é maior do que a necessidade que um tem pelo outro, onde os indivíduos não devem completar-se e sim SOMAR-SE. A carência é o nosso destino maior, tão mais fatal e inerente quanto o amor.

Peço desculpas à todos aqueles que machuquei. Nunca foi intencional e, talvez torpe, mas com a intenção de machucar-lhes menos. Ou a mim mesmo, menos. Perdoai este carente-carente que vos fala. Ele sempre será sincero, amará sempre sinceramente e nunca quererá machucar-lhe. Machuca-lho. Um amor de chocalho. Minha carência ainda ramificará-se em Amor, sempre amor. Amor clássico. Amor não mais existente.

Por Cláudio_DeLarge

4 comentários:

Natália disse...

Somos todos carentes em potencial. Todos incertos e inseguros, indepentende de ter ou não habilidade em manter relações interpessoais. Em algum momento a solidão nos invade, e essa carência se torna evidente. Há como você disse os que buscam degolar esse excesso de si nos outros, e os que sabem-se vazios e tentam não precisar disso. Esses voltam-se para qualquer atividade que os faça esquecer dessa necessidade do outro. O que nem sempre é possível.

Ass: Uma carente-carente

Anônimo disse...

Vc eh perfeito.

Paul disse...

Lindo, tocou-me profundamente. Sou mais um carente-carente que quer ser somado e não completado, pois não sou metade, sou um inteiro!

Adoro o seu blog.

C. Junior disse...

"não sou metade, sou um inteiro!". Profundo!