terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Fakes Virtuais: Quero Ser VOCÊ!

"Quando o que eu mais queria era provar pra todo o mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém." Musica 'Quase sem querer' – Legião Urbana.

No artigo 307 do Código Penal Brasileiro, a "Falsa Identidade", ou seja, o ato de atribuir-se de identidade de uma outra pessoa é fraude criminal com pena de 3 meses à um ano de prisão reclusa. Mesmo assim, a quantidade de perfis Fakes em sites de relacionamentos (Twitter, FaceBook e, principalmente Orkut) vem crescendo constantemente e as suas intenções são variadas: Debater ou brigar em comunidades sem medo de retaliações e conseqüências, 'zoar' um inímigo, atos criminosos ou até mesmo ver a página de recados de alguem sem aparecer no 'Visitantes Recentes'. A necessidade é uma e óbvia, embora mais profunda do que se imagina: O medo de mostrar-se.

Todos nós vivemos em um mundo de máscaras, e não digo no sentido de falsidade. Utilizamos mascaras em nossa existência presencial por uma questão de sobrevivência social. Os papéis sociais ao qual desempenhamos - Ser pai, mãe, profissional, amigo, filho, amante, namorado. São diferentes papéis para diferentes situações de uma mesma pessoa - nada mais são que mascaras que somos treinados a utilizar, admitidas ou não, em virtude dos parâmetros sociais que norteiam o seu uso. E isso acontece desde criança. Na infância os nossos papéis são expectativas paternas a fim de receber aprovação dos mais velhos, sendo este o primeiro padrão da formação do ego. Estas mascaras foram denominadas PERSONAS, pelo psicanalista C. G. Jung. Para ele a PERSONA, não é apenas uma mera mascara mas uma influência em nosso interior e responsável pela estruturação de nossa personalidade. Resumindo, deixamos de ser nós mesmos e passamos a ser, cada vez mais, a imagem e semelhança das expectativas daqueles que convivemos.

Tornamo-nos um produto em tamanho grande, o qual o conteúdo não é experimentado sem que a embalagem ofereça interesse. Vivemos em sociedade "Teia de Aranha" e por mais que seja dito "Não me importa o que as pessoas dizem" não é inteiramente verdade. Todos somos interligados e co-responsáveis pela vida das pessoas ao nosso redor, por mais que não a conheçamos. Vou dar um exemplo: Em um dia chuvoso, estou estressado, o que não é do meu feitio. Um homem apressado pisa no meu pé, e eu ofendo-o. Este homem acabara de brigar com a mãe, por que ele derrubou um vaso por estar atrasado devido atender um telefonema no irmão que nunca liga. Triste pela ofensa que recebeu, chega à entrevista de emprego e não vai bem. Perde a vaga. Eu, que levei um pisão, criei um unha encravada que, posteriormente, fará eu amputar o dedinho mindinho do pé direito. Por que eu contei esta história? Por que o coletivo é necessário e importante para a formação da nossa personalidade e humor. Depois de tantas mascaras, chegamos em casa e podemos ser nós mesmos, certo? ERRADO!

No mundo virtual podemos expor-nos sem nos expor. Se eu não for compreendido ou não gostarem de mim, simplesmente desconecto-me, ao contrário de um contato pessoal a qual causaria um constrangimento. Como a mídia favorece os estereótipos "Homem e Mulher Modelo", muitos sentem-se desencaixados e tem medo de expor-se e não sentir-se aceitos. Não estarem satisfeitos com a auto-imagem, baixo auto-estima e auto suficiência. Vivendo em uma insalubre vontade de ser aquilo que não é, apreciar aquilo que não se têm e conversar o conteúdo que não possui. Não damos nossa cara a tapa e tiramos o peso da responsabilidade, sem saber que é dos erros que evoluímos e aprendemos.

Decidi escrever este texto por que já fizeram vários fakes com as minhas fotos. A grande maioria das vezes não me prejudicaram, apenas queriam ser o "Cláudio DeLarge". Houve um menino até que entrava em sites do Bate-Papo Uol, divulgava os meus videos do Youtube e ainda conversava via telefone com outros. Descobri posteriormente com alguns comentários destes 'outros' no perfil do Youtube. O que me deixou pensativo foi criar fake de alguém 'normal'. A questão não era um perfil com as minhas fotos, mas com as fotos de um 'anônimo', um não famoso, um desconhecido. E isso é muito mais triste que fazer um 'Fake famoso'. O Anônimo tem as mesmas possibilidades e entraves sociais. Ser o fake de um anônimo é o limite do desespero de estar perdido, pois eu só soube aproveitar as mesmas oportunidades que o usurpador têm. Quando consegui conversar com um dos usurpadores via MSN, ele ainda debatia em ser o verdadeiro e chamava-me de mentiroso. Sua intenção era destruir aquilo que ele queria ser e poder ter a sensação de sentir-se melhor do que aquilo que ele almejava. Uma espécie de auto-mutilação covarde. É insalubre, pois nunca viverá plenamente e feliz. Sua vida será uma mentira, um fake, um farsa.

Pode parecer demagogia. Muitos dizem ser inveja, mas o usurpador de um anônimo considero-o como um Triste Criativo. Cria um imaginário sem mover o corpo, vive aquilo que não consegue viver. Sente aquilo que não consegue sentir. Isto é insalubre, pois a necessidade de sentir tal qual a intensidade que EU sinto, torna-o mais triste. E confesso algo: É mais triste pois ele é o fake de um fake. Na internet eu também mostro-me como gostaria de ser. As fotos e frases são minhas, mas só torno-me protagonista verdadeiro de uma história, quando encontro-me na sala escura de um cinema.

Por Cláudio_DeLarge

3 comentários:

Ítalo Seal disse...

Adorei o texto. Já havia lido vários outros com o mesmo tema, mas achei o seu bastante interessante. Parabéns, como sempre, intrigante.

[Não te importa] disse...

perfeito tudo isso que disse. Estava comendo amendoim e até me engasguei.. rsrs por ter conversado com o seu fake... Eu tinha uma ligação com Fake.. Também tinha um e o porque eu eu tinha um Fake vc já disse tudo direitinho o e detalahdamente. Até que um dia eu também encontrei um Fake meu e apenas o denunciei, e fiz um Fake meu mesmo [sou meio louco não?] Mas então o google descobriu e deletou meus 3 profiles. 2 para amigos e familia e 1 Fake meu mesmo. rsrs. então parei e pensei, porque ter fake? Sei lá... acho que quando eu fiz ainda era moda.

Natália disse...

É na internet que podemos ser quem gostaríamos, e encontrar sempre pessoas aparentementefelizes e realizadas em todos os ambitos. Não é necessário assumir uma espinha, a briga com os amigos, a relação familiar conturbada a decepção escolar, a bota do cara da balada que não ligou. Eu compreendo, já é dificil viver, quanto mais expor todas essas frustrações. Mostrar ao outro nossa fragilidade. Mas o problema é quando pra fugir da imperfeição da vida, cria-se uma pessoa ideal que desaparece quando você aperta o X da pág do orkut.