domingo, 24 de janeiro de 2010

Cinema Hollywood e a Homossexualidade

"Ser Homem tem a ver com quem você transa" - Whoopi Goldberg

A vida homossexual nos cinemas, pelo menos até a década de 70, era resumida em três palavras: Medo, Pena e Risos. O que, de certa forma, era uma influência de como deveriam sentir-se. Logo abaixo, fiz um estudo brevíssimo de como era a visão da homossexualidade frente o cinema de hollywood desde sua criação aos dias de hoje. Espero que gostem!

Os homossexuais eram retratados de formahumorística, efeminada, exaltando um comportamento ao qual não se deveria ter. Vistos como homens assexuados, bem arrumados e trejeitos evidentes, eram sempre motivos de piadas. Isso falando dos homens. Quero dizer, assim como atualmente, nas primeiras décadas do século, quando um homem vestia-se de mulher, era uma comédia, quando uma mulher vestia-se de homem, era sensual. Um exemplo são um dos dois primeiros filmes a retratar uma conotação lésbica: "Marrocos" (1930) com Marlene Dietrich - Era sensual, provocante e encantador, para homens e para mulheres - e "Rainha Cristina" (1930) com Greta Garbo - contando a história da rainha lésbica sueca. O preconceito e a hipocrisia heteronormativa também foi retratada por ninguem menos que Charles Chaplin, em seu curta "Behind the Screen" (1914). Este filme conta a história de uma mulher que para poder trabalhar, fantasia-se de homem. Carlitos apaixona-se por ela e lhe dá um beijo. Visto o beijo os dois são levados a julgamento criminal. Há um século atrás e Chaplin já quebrava padrões.

Em 1934 a igreja católica decide intrometer-se com a moral e bons costumes ameaçando boicotar os filmes hollywoodianos caso, não só esse tema como outros ligados a sexualidade, fosse abordado - estupro, incesto, canibalismo, etc. A questão não foi levada muito a sério até ser criado un instituto de filtro de filmes fundado então pela sociedade familiar americana da época. Nada era passado nos cinemas sem a aprovação. O jeito era retratar a homossexualidade de forma disfarçada ou de uma maneira pejorativa.
Os homossexuais então passaram a ser retratados como velhos ou em filmes de terror e suspense, como no caso de "A Filha de Drácula" de 1936, e dois do Hitchcock: "Rebecca" (1940) e "O Falcão Maltês" (1941).

Já no final da década de 40 e seguindo a década de 60, foi reforçada a idéia de que os homossexuais são sofredores e, optar por esta vida, seria optar por tristeza. O fim era sempre o mesmo: A morte dramática. Em "Young Man With Ideas" um advogado envolve-se com um homem, sentindo-se culpado. Os gays então são retratados em bares escondidos, como marginais da sociedade e um estilo de vida difícil e degradante, triste. Até em um filme famoso "Juventude Transviada" (1955) James Dean - bissexual assumido - ensina o personagem de Sal Mineo como ser "Hetero". O personagem era evidentemente apaixonado por Dean e sofria inúmeras retaliações na escola. Seu fim foi a morte, ligando a homossexualidade com o sofrimento. Enfim, deveriam viver nas sombras, depressivos e triste. O gay era morto, a lésbica enforcada e a adultera expulsa.

Os roteiristas então aprenderam a escrever nas entrelinhas. Em 1948 no "Rio Vermelho", Montgomery Clift usa o seu revolver para ter uma relação sexual, nas entrelinhas, obviamente, com Jonh Wayne. Em "Ben Hur" (1959), por exemplo, o personagem de Stephen Boyd, Messala, era apaixonado por Ben Hur (Charlton Helston). O diretor Willian Wyler não contou isso a Helston, apenas a Boyd, que ficou encarregado dos olhares apaixonados. Como a censura não era lá muito inteligente, então abusavam-se dos diálogos de duplo sentido. A grande sacada foi de Stanley Kubrick em "Spartacus" (1960), no diálogo de Lawrence Oliver e Tony Curtis:


– Você considera comer ostras moral e comer caracóis imoral? É uma questão de gosto, não? E gosto não é o mesmo que apetite... Portanto, a questão não é moral, certo? Meu gosto inclui caracóis e ostras.
Entenderam? Há!

A homossexualidade foi retirada da lista de doenças mentais em 1975, mas a mentalidade das pessoas ainda não havia mudado. Os filmes de maior visibilidade gay da época foram "Freebbie And The Been" e "Cruisin", ambos de 1980. Contavam a história de Serial Killers homossexuais. O ator Tom Hanks afirmou que no final das exibições haviam palmas com a morte do vilão gay. O que sentia-se era que as palmas eram por ser a morte de um gay, vilão gay. Motivando-o a aceitar o papel em "Philadelfia". Crimes de Homofobia aconteciam e frases como "Se você viu Cruisin, sabe o que merece" eram gritadas. Passeatas gays pediam a proibição de exibição do filmes e, para a alegria, foi feito um dos primeiros filmes gays românticos, "Making Love" (1982) que contava com um aviso claro antes de sua exibição, motivando o esvaziamento das salas de cinema. Fazer um papel gay era como terminar a carreira.

Ao contrário do que pensam, as cenas gays tambem rendiam interesse. A nudez feminina era menos chocante e a relação de duas mulheres nuas era algo erótico e excitante. O pensamento na época era que as mulheres só transavam com outras mulheres por curiosidade ou por não terem achado o homem certo. No caso dos homens, era por safadeza mesmo, não "podiam" ter sentimentos. "Thelma e Louise" (1991), "A Cor Purpura" (1985), "Banquete de Casamento" (1993) e "Tomates Verdes Fritos" são exemplos de filmes da década.

O novo milênio chega e a aceitação tambem. O grande vilão passa a ser a discriminação e o tema de homossexualidade passa a ser abordado de maneira sensível ou humoristicamente de bom gosto. Filmes como "As Horas" (2002), "Brokeback Mountain"(2005) e "Milk" (2008) levam a temática gay ao oscar e são vencedores. "Another Gay Movie" (2008) e "Eating Out" (2009) escracham-se e não tem vergonha de mostrar-se sexualmente ativos ligando-se a promiscuidade. Os gays tornaram-se simbolos de moda, metrossexualidade e beleza. Ainda há preconceito. Diretores e atores ainda saem aos poucos do armário (Jodie Foster, Gus Van Sant e Ian Mclaen) ou não (Jonh Travolta e Kevin Spacey), mas a evolução no pensamento e respeito ao próximo, independente de condições e orientações, continuam, mesmo que lentamente. O cinema é a melhor arte. Você entra em uma sala escura tornando-se vulnerável, mas incentivado a ser protagonista da própria vida.

Dicas:
Gays: "Gata em Teto de Zinco Quente" (1958) e "O Segredo de Brokeback Mountain"
Lésbicas: "Thelma e Louise" (1991) e "As Horas" (2002)
Travestis: "Quanto mais Quente, Melhor" (1959) "The Rocky Horror Picture Show" (1975)

Por Cláudio Delarge

2 comentários:

Ítalo Seal disse...

O problema é que o gay sempre carrega uma chaga. Atualmente, a maioria dos filmes fazem questão de enfatizar o homossexual como alguém que vive de forma reprimida, sofrendo muitos preconceitos e tendo de lutar por um mundo mais justo. Mas levamos uma vida normal, os preconceitos estão sendo desconstruídos aos poucos, mas estão. Aqui no Brasil, o preconceito é muito velado, não há nada escancarado.
Quero que as grandes produções mostrem homossexuais como pessoas que respiram, andam, comem, trabalham, sem necessariamente ser vítimas de homofobia.
Sei que pode ser um ponto de vista não muito aceito, ou posso ser tachado de alienado, mas é o que penso.

Natália disse...

Adoreeei seu estudo. Deixa bem claro como o cinema reflete o pensamento sociocultural da época e evidencia essa tendência a tolerância.