quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Closer - Perto Demais II

"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." (Clarisse Lispector)

O Sangue já escorria pelo pescoço e eu não sabia se estava mais assustado pelo barulho que o tapa fizera ou quanto a atitude do namorado ao esbofetear o marido. O tapa foi tão forte que a cabeça do marido foi em direção a pia. O mármore fez um corte logo acima da sobrancelha e derramava sangue calmamente.

- Olha o que ele me fez, vocês viram? Ele bateu em mim. - Disse o marido numa voz de choro o que me fez, instintivamente, ir em à sua direção ajudá-lo.

- Não encosta nele. - O namorado veio em minha direção com os dois olhos arregalados e os punhos fechados. Exalava descontrole e ódio. Pronto. Ele iria me bater. E se eu levasse um soco o que eu faria? Nunca nem se quer empurrei alguém, com certeza eu levaria um soco e ficaria quieto. Não por saber que a minha atitude era errada, mas por não ter coragem de bater em alguém. Por medo. E ele vinha em minha direção com uma determinação que fazia minha respiração tornar-se irregular.

***

- Viaja comigo para o Rio de Janeiro agora? - O marido disse com um brilho estranho nos olhos. Um medinho estranho percorreu minha espinha.
-
Você está louco? Não posso viajar exatamente agora. Meu RG, minha carteira... Esta tudo na sua casa. Além disso, seu namorado vai sacar na hora e...
- Não importa
- Ele colocou o dedo em minha boca e me beijou - Só quero ficar com você agora. Dormindo agarradinho. Vamos à um motel então? Conheço um ótimo aqui por perto e...
- Nem vem...
- Interrompi-o já com o medinho crescendo. Conheci-o hoje e, no meu ponto de vista, todas as pessoas são assassinas em potencial. – Socorro, pensei - Você é fofo e tudo que eu sempre quis. Mas não vou fazer Tchutchu com você. Conheci você hoje.
- Tchuchu?
- Ele pergunta com expressão de desconhecimento.
- É, tchutchu... Sexo. Assim que eu o chamo, desculpe. - Falei envergonhado. Aderi esse vocábulo e, a qualquer pessoa, referia-me Sexo como "Tchutchu".
- Meu Deus, você é muito fofo. Vai comigo, por favor. Juro que não farei nada que você não queira. Só quero ficar com você, agarradinho, juntinho e te fazendo carinho.

Ok, eu também não sou de ferro e aqueles olhos verdes vivos me olhavam com um apelo de querer agarrá-los. Seria a maior loucura que fiz em minha vida, mas estava com medo. Apavorado, para ser sincero. Não por não confiar nele, mas por não ter controle da situação. Já se passavam da meia-noite, estava em um bairro que eu não conhecia, sem carteira e RG. Não queria transar com ele, embora ele fosse muito gostoso com um peitoral que me distraía em conversa às vezes. Queria, mas estava com medo. Não tinha certeza se estava mais com medo de falar ‘Não’ ou de ir ao motel. Fiquei mudo por alguns segundos.

- Vamos, por favor? Não quero enfrentar meu namorado hoje. - Disse ele com uma feição de triste e, ao lembrar-se do namorado, minha espinha congelou-se. Concordei com os olhos.

No caminho do motel, fiquei mudo. Estava apavorado com tudo.

- Você está com seu R.G? - Perguntou ele com um sorriso.
- Não, minha carteira está em sua casa. - Meio alívio surgiu em mim.
- Vamos tentar!

"Peça meu RG, Peça meu RG" eu pensava fervorosamente. Sou baixinho e tenho cara de novo. Sem RG, provavelmente, não me deixariam entrar. Ao chegar na portaria, a moça olhou em minha direção. Fiz a cara de mais infantil possível, com olhos brilhantes e uma evidência no lábio inferior. A moça recusou-se a deicar eu entrar sem RG. O alívio percorreu o corpo e tive que reprimir um sorriso. Porém, logo cessou ao decidir ir falar com o namorado. Ele era meu colega tinha direito de saber o que aconteceu.

***

O namorado veio em minha direção e meu amigo logo se colocou entre nós.

- Por que você fez isso comigo? Você acabou com a minha vida. - Disse ele em um grito reprimido. Sua boca mal se abria e seus olhos mutilavam-me. O desespero me invadiu. Até aquele momento eu não tinha entendido a amplitude do que acontecera. O marido estava decidido em terminar tudo, e não havia o que o namorado dizia que o fizesse mudar de idéia. Lá estava o namorado em minha frente: raivoso e futuramente sozinho, desempregado, sem dinheiro, sem casa e sem perspectiva. Meus olhos encheram-se de lágrimas e única coisa que eu queria fazer era sair dali. Nunca tinha feito algo tão feio e egoísta em minha vida. Destruí os sonhos de uma pessoa. Eu merecia aquele soco que vinha.

Uma mão pesada atingiu meu peito me jogando para trás violentamente. Minhas costas bateram na estante e meus olhos reviraram de dor. Dois porta-retratos caíram sobre minha cabeça. A dor nas costas fazia com que eu segurasse a respiração a fim de não sentir a dor de minha cirurgia na coluna. Minha boca abriu-se sem grito.

- Não encosta a mão nele! - O marido gritou com voz de desespero - Bata em mim, mas não nele.
- Por que você o esta defendendo?
- Por que ele é lindo. Ele é magrinho, não o machuque.
- Sua voz era de dó, de cuidado, de visivelmente alcoolizado.
- Não encosta nele você. Se você repetir isso, aí que eu bato nele outra vez. - Disse o namorado furioso.
-
NÃO ENCOSTA NELE. A escritura desta casa está em meu nome e eu quero que você saia. - O marido gritou com voz em prantos. Eu queria sumir dali. Estava com medo dos dois.
- Cláudio, eu quero que você vá embora assim que o trem voltar a funcionar. Por Favor. Desculpe pelo soco, eu não sou assim. – Disse o namorado com uma calma repentina. Era o que eu mais queria fazer.
- A casa é minha e quem deve sair é você. – Disse o marido com uma garrafa de Smirnoff Ice na mão. Como ele podia ser tão frio? – El
es dois vão dormir aqui hoje. Se o Cláudionho quiser, ele pode dormir na minha cama. – Piscadela.

O namorado foi em direção ao marido. Deu três socos seguidos nos ombros e no peito. Gritava “Como você pode fazer isso comigo, ele era meu amigo”. Como resposta o namorado recebeu “Ele não é seu amigo e você não o via a anos. Você não o trazia acho que é por medo de me perder só por que ele é muito mais lindo, interessante e inteligente que você”. Aquilo estava indo longe demais e eu não conseguia mais suportar. Por que tudo se tornou tão difícil? Por que a simplicidade com que eu via as coisas não voltava? “Você já o beijou e sabe o quanto a boca dele é gostosa” era o que o marido repetia enquanto desviava dos socos do namorado choroso enquanto meu amigo tentava apartá-los. “Sua bichinha de Autorama”, gritou o marido. “O Cláudio também ia no Autorama”.

- Ow, peraí. – Dei um grito. Não entendi por que fiquei tão bravo ao me associarem ao autorama – Primeiro, pare de falar assim com seu namorado que ele não vai ao autorama desde que conheceu você. E você – Dirigi-me ao namorado – Só fui aquele lugar uma vez para nunca mais. Hãm. – Meu tom era infantil e o “Hãm!” deu uma impressão de brincadeira.

Ao ouvir eu falar pela primeira vez, o namorado veio em minha direção e me deu um abraço. Um abraço de desespero e apertado.

- Ele já me bateu duas vezes. De me dar chute nas costelas. Mas eu o amo. Quando eu fiquei com você, nem você quis namorar comigo, ele foi o único. Não leve ele de mim. – Disse em um tom de súplica.
-
Não vou levá-lo. Eu... eu... – Abracei-o – Ele me disse que via meu Orkut durante estes seis meses que passaram. Talvez eu seja uma desculpa, sei lá.

Fomos interrompidos pelo marido dizendo que a cama a qual eu e meu amigo iríamos dormir estava pronta. Ele e o namorado conversariam no quarto a sós.Ele despediu-se de meu amigo com um abraço e, ao vir em minha direção dar-me um beijo, hesitei visivelmente.

Deitados, pedi desculpas milhares de vezes ao meu amigo. Chorei e ele me abraçou. “Sei que você não fez por mal, anjo. Vou te chamar agora de Ivone, da novela ‘Caminho das Índias’”. Ri baixo, tenso por ainda ouvir os gritos no quarto ao lado. Minutos depois a porta do quarto deles se abre e fecha violentamente. Após cinco minutos silenciosos, ouço o namorado chorar sozinho durante toda a madrugada lá na sala. Sinto medo e remorso. Penso no que fiz e o sono vêm lentamente. Durmo ao som de um choro solitário. Distante, triste e solitário.

"Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão." - (Vinícius de Morais)

Por Cláudio_DeLarge

2 comentários:

L. Fernando disse...

Tem que virar livro!

Anônimo disse...

Isso q aconteceu eh d verdade msm???? Foi com qm eu to pensandoo???