domingo, 16 de agosto de 2009

Coisas Belas e Sujas

"Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo." - Raul Seixas

Quando eu acreditava em Deus, toda conseqüência de meus atos havia um motivo ao qual eu não era inteiramente responsável. Ele nunca me dava um peso maior ao qual eu não poderia carregar, minhas provações e sofrimentos eram um teste ao meu caráter e nada acontecia por um acaso. Quando eu estivesse triste ou sofrendo, apenas orava a ele e tudo estaria bem após alguns dias graças ao seu amparo. Caso ainda não houvesse dado certo, as provações e sofrimentos eram necessários a fim de fazer-me evoluir espiritualmente. O sentido da vida era ser bom para, em meu pós-vida, aproveitar minha Luz com meus entes queridos.

Quando eu acreditava em um relacionamento amoroso entre duas pessoas, idealizava amores como os de Audrey Hepburn. Um amor de entrega total e fidelidade impar. Eu seria tudo para a pessoa e ela seria tudo para mim. Veria o meu eu em meu parceiro e talvez até sangrar em uma possível partida. Sonhava em que ele me dedicasse uma música MPB, ficar deitado na grama olhando para cima ou assistir filmes antigos juntos.

Quando eu acreditava na amizade, tinha dezenas de amigos em minha volta. Vários grupos espalhados por toda São Paulo e até mesmo, pelo Brasil. Minha festa de aniversário estaria lotada, minha agenda abarrotada e dezenas de duplas de ombros para encostar-me.

Quando eu acreditava que o sexo era o maior grau de intimidade e entrega que duas pessoas poderiam ter, sentia-me o mais valioso de todos os corpos. Reconhecia minha ejaculação como a essência única e total da vida. O Sexo seria um símbolo de confiança e entrega a pessoa a quem eu amava, onde amor e sexo estavam entrelaçados e o gozo era intensificado na presença de sentimento.


Quando descobri a Razão, notei que não há como provar a existência de Deus. Meus atos e suas conseqüências são exclusivamente responsabilidades minhas e coloquei a prova à essência da minha bondade, a qual demonstrava que eu não era bom por mim, mas talvez por temer ir para o Inferno, como ser humano egoísta que sou. A Possibilidade de nunca mais ver meus entes queridos que já não existiam mais tomou um sentimento de invalidez e solidão. Sem Eles... e sem Deus. Aprendi a evoluir por mim.

Quando descobri o Egoísmo, percebi que este sentimento (Ou instinto) é inerente ao homem. À vontade da conquista e adrenalina colocaria a prova à rotina e mesmice a que um relacionamento amoroso entre duas pessoas pode chegar. Aprendi a ser companheiro e aproveitar o momento em si.

Quando descobri o interesse, vi que em momentos que mais precisava da amizade, ela encontrava-se apenas em um ou dois mínimos pingos na imensidão que, antes me rodeava e agora, afastava-se. Aprendi a reconhecer amigos de verdade.

Quando conheci o Sexo, senti a sensação de torpor, prazer e violência ao mesmo tempo. O Egoísmo da conquista aflorou-se e a necessidade de penetrar e ser penetrado por outros indivíduos fazia-me sentir vivo. Produzo 150 milhões de espermatozóides diariamente, os quais serão expelidos em cerca de quatro em quatro dias caso eu não os utilize. Por que não utilizá-los de maneira prazerosa? Aprendi a reconhecer e quebrar hipocrisias e falsas moralidades.

Viver o ilusório na facilidade de ser feliz ou reconhecer a realidade na possibilidade de entristecer?

Ontem escutei Enya, hoje está sendo Britney Spears e amanha Elis Regina. Ontem era Vegetariano, hoje descobri a carne e amanhã só comerei chocolates. Ontem eu namorava, hoje fui infiel e amanhã me arrependerei ao máximo. Ontem era ativo, hoje quero ser passivo e amanhã ficarei só no sexo oral. Ontem corri 14km, hoje fiquei sedentário e amanhã farei natação...

... Ontem eu amei, hoje eu amo e amanhã amarei.
E ainda repito cantarolando "Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo"...



Por Cláudio DeLarge

4 comentários:

L. Fernando disse...

Você escreve muito bem! Texto lindo!
Tá favoritado :D
Beeijo!

Rodrigo Rocha Fortaleza disse...

Huau! Que texto de expressões fortes...
A verdade única e inalienável, é que não somos donos da dita, cada um tem sua verdade.
Talvez, o que acreditamos hoje, seja banal amanhã e vice-versa, conceitos existem para serem discutidos e reformulados, não tem outro modo.
O que tenho aprendido, é que ser você e não abrir mão de sua integridade é o que realmente faz tudo valer a pena.
Deus, Amigos, Sexo, Dinheiro e Amores são elementos que cabe a cada um administrar da maneira que lhe convém, pois são bens, se não houver vantagens não vale a pena adquirir.

Amei o texto, você usa a escrita de forma muito prazerosa de se ler!
Bjo!

Coisas em Palavras disse...

Interessante...

Nath disse...

As certezas sempre mudam de acordo com a nossa necessidade de fugir do tédio de uma verdade. Nada melhor que raulzito e a sua metamorfose ambulante.