terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Espetáculo de Ballet: A Vida

"O que eu senti dançando? Eu não faço idéia. Eu nem dancei. Eu nem estava lá, para ser sincero. Naquele momento eu era apenas o fluido que fundiu-se a música. Eu era o palco, as luzes e os movimentos do meu corpo. Eu era os aplausos. Eu nunca estive tão distante de mim e tão em mim em toda minha vida, mãe"
Resposta dada a minha mãe após a apresentação.

Eu estava lá sozinho naquele teatro enorme. Enquanto minha professora de ballet conferia e conversava com os responsáveis pelo equipamento sonoro, e os poucos outros bailarinos que chegaram  (muito) mais cedo - assim como eu - estavam arrumando suas coisas no camarim, eu fiquei parado no palco olhando a platéia vazia e tendo meus pensamentos em turbilhão. Eu Visualizava 600 poltronas vinho a minha frente, estava em baixo de 200 luzes e 50 estrobos, cochias e um tablado que ecoaria lindamente um Step Ball Change, Hill*, tudo isso centralizado em cortinas de veludos vermelhas e pesadas. Eu fazia parte de tudo aquilo. Eu era aquilo.

O que coloca a dança em um nível superior as outras artes é que eu, o bailarino, que sou a arte. Aos olhos daquele teatro lotado, eu sou o artístico, a sensibilidade e a emoção. 
Nos olhos deles, sou arte, nos meus, Felicidade.

No camarim eu via a euforia, a gritaria e a ansiedade. Lá, o maior problema da minha vida era descobrir onde estavam as sapatilhas brancas para a próxima coreografia. Eu não tinha problemas profissionais, sentimentais ou psicológicos. Esqueci todos. A intensidade estava alí. Fantástico!
Houve um momento que me senti em uma cena de filme, onde todos corriam para lá e para cá, gritando e desesperados, e eu me via de cima, parado e completamente feliz, explodindo em um sorriso iluminado.

A música clássica já rolava e eu estava na cochia segundos antes de entrar. Eu podia sentir o meu coração batendo quente e violento no meu peito. Ao entrar, eu não olhava na platéia, eu apenas prestava atenção em meus movimentos. Tudo teria de ser perfeito. Um erro e eu não me perdoaria. A cada passo um sorriso, um sorriso que não demonstrava-se em meus lábios pela enorme tensão que dominava meu corpo. Em determinado momento, senti que minha perna não me obedeceria. Bobo fui, mal eu sabia que ela levantou-se tão leve, alongada e linda como eu jamais tinha feito. Era como se a musica penetrasse pelos poros e me levasse aos movimentos. Eu não fazia mais nada, apenas deixava que a música levasse meu corpo para onde quisesse. Terminada, me dei conta de onde estava ao ouvir os aplausos. Eram milhares e estava lotado. Deu-me uma vontade incontrolável de chorar. Chorar de felicidade.

Ao dançar o contemporâneo, meu corpo me levou. Seu eu não me controlasse, a música me faria levitar. No Sapateado, um grande sorriso dominou o meu rosto. Não sei se era nervosismo ou felicidade, mas eu queria gargalhar até minha barriga doer. Queria fazer com que todos sentissem aquela sensação quase alucinógena. Se eu fosse morrer naquele momento, eu não morreria. Toda aquela felicidade me ressuscitaria em seguida.

Na coreografia final, os aplausos intensificaram-se e, agora, eles eram efusivos e feitos de pé. A luz acendeu-se totalmente e eu consegui identificar vários rostos conhecidos. Rostos que eu nunca imaginaria encontrar alí. Essa combinação fez meu peito doer e minha garganta rasgar-se. Eu queria chorar, chorar violentamente. A felicidade que eu sentia era tanta que doia, e queira extirpá-la um pouco através das lágrimas. Limpar minha alma e deixar só felicidade. 

O texto pode parecer demagogo e de descrição fraca. Peço desculpas, mas foi inenarrável. Ao deitar em minha cama, eu chorei. Chorei de soluçar. Chorei por que eu era a pessoa mais feliz e realizada do mundo. Amigos incríveis, familia presente, ótimo cargo para minha idade, conhecimento, sensibilidade, bens materiais suficientes, sentimento de beleza física e a Dança. Ah, a dança! 

* Step Ball Change Hill refere-se a um passo de Sapateado

4 comentários:

Anônimo disse...

Meu coração bate feliz quando você está feliz!! =D

Samarone disse...

Cláudio, que alegria ao ler seu texto!!! Parabéns!!! Não só pela apresentação, mas pelo momento maravilhoso em sua vida! Que ele dure muito tempo!!!heheheh Abração

Anônimo disse...

Você merece tudo isso varias vezes.

Natália disse...

Se eu disser que senti tudo isso você acredita?