domingo, 28 de junho de 2009

"Em Algum Lugar Do Passado"

Segunda-feira, seis horas da manhã e minhas mãos já transpiram descontroladamente. Passei as férias de Dezembro tomando Dramin, remédio que evita enjôos e insônia. O médico disse para minha mãe que meus sintomas não passavam de uma gastrite crônica e ofereceu um remédio que eu não lembro o nome, mas ela negou rapidamente. Ela preferia que minhas serotoninas e noradrenalinas agissem de forma natural.
Primeiro dia de aula e, logo na entrada de meu novo colegio, senti uma dor de barriga. Enorme e formado por seis prédios, o "Liceu Camilo Castelo Branco" ocupava mais de dois quarteirões, isso por que era ligado com a universidade. Na sala já cheia, escolhi o lugar mais fundo e vazio da sala. A localização geográfica não iria beneficiar-me na hora de fazer novos amigos, mas minha mente estava ocupada demais evitando não vomitar. Ah, e minhas mãos continuavam a transpirar. Maldita Sudorese!
No canto direito da sala, uma menina alta, gordinha e de cabelo curto me chamou para sentar ao seu lado. Nós dois e mais duas pessoas eram os únicos novos da sala porque entramos ainda no segundo colegial. Ela, de nome Yamili, não falava muito e eu, ansioso, sempre falei muito baixo, o que dificultava qualquer diálogo.
Uma semana depois e um pouco menos desconfortável, formamos um trio junto com a Débora. Não tinha muito ido com a cara dela por que usava saia abaixo dos joelhos e cabelo grande e liso.
Semanas passaram-se e o grupo aumentou. Juntei ao grupo , mais duas meninas nerds e delicadas que sentavam nas primeiras carteiras - minhas amizades sempre tinham estas caracteristicas - e a Yamili trouxe os góticos e headbangers mal-encarados do canto da sala. Tudo vivendo em perfeita harmonia. Bom, isso até que o menino da sala ao lado decidiu me bater por achar que eu estava ficando com a namorada dele. Dã! O assunto foi resolvido com uma conversa.
Dois meses depois me descobri homossexual. Um mês depois, descobri que a Yamili era, de fato, homossexual. Mais um mês depois, meu namorado passou a me buscar todos os dias na porta da escola, por que um menino chamado H. queria me bater por eu ser gay. Três meses depois, já solteiro e ficando com o A., descobri em uma conversa regada de vinho barato, que o H. frequentemente tinha relações sexuais sem compromisso com o A. (!) .A adolescência é realmente muito estranha. Primeiro você quase apanha por (não) seduzir a namorada alheia, depois você quase apanha por ser homossexual e, logo depois, descobre que o menino que ia te bater, era um bissexual enrustido e que você estava beijando o menino que fez com que este homofobico se descobrisse. Ufa! Depois de muitas brigas por trabalhos de lingua portuguesa que ficavam apenas nas minhas costas e de quimica incompletos, o ano termina e começamos o terceiro colegial.
Segunda-feira, seis horas da manhã e eu não via a hora de chegar na escola. Abraços, beijos e, dois meses depois, Cláudio, Débora e Yamili conheciam a escola inteira. Desde o primário ao ginásio e colegial. A Débora conhecia todos os alunos do publicidade, a Yamili todo o ginásio e os meninos e o Cláudio todas as meninas e alguns universitários. Aulas de biologia e geografia eram dedicadas a cabularmos em outras salas conversando, ou na própria escada. Na hora das provas a Yamili e a Débora traziam colas impressas em computador com letras tamanho 6. Eu, ainda com a sudorese na mão, não me entendia com papeizinhos minúsculos e minha consciência não me deixava colar. Felizmente os professores nos adoravam e pareciam me achar muito inteligente, o que facilitava nas provas. Eu apenas escrevia com palavras dificeis, com alguma conotação com a matéria e ultrapassava doze linhas, que facilmente ganhava um certo. Acho que eles nem liam.
Orkut bombava, dançavamos em várias festas de debutante, cumprimentavamos pessoas que nem lembravamos quem eram. Junto com a sala do curso técnico Publicidade, famosa pelas meninas extremamente lindas, conheciamos mais pessoas. Nós eramos do curso de Processamento de Dados, formado por 4 meninas e 27 meninos.
Novembro ia chegando e a apresentação do TCC tambem. Um curta metragem em animação 3D, junto com dois sites de médio porte e uma divulgação que incluia agendas, canetas e camisetas do personagem do curta, nos deu a nota 9,3, a maior nota dos ultimos nove anos do curso.
No ultimo dia de aula, pulamos na piscina, fizemos um campeonato de futebol e cantamos em coro "Chora, Castelo, Chora. Que o Terceiro tá indo embora". Não deu outra, chorei de soluçar. Cada abraço que recebia, eram mais dois minutos de lágrimas. Naquele momento, não havia mais sudorese nas mãos...

Ontem houve uma quermese em minha antiga escola com uma quadrilha apenas com antigos alunos e professores. Reencontrei pessoas que não via a anos e percebi como a saudade era grande e como fiquei confortável com elas da mesma forma como a três anos atrás. Acredito que as pessoas realmente ligadas não precisam de ligação física, pois no reencontro, mesmo depois de anos, a amizade é tão forte quanto sempre. O Verbo "Amar", em persa, significa "ser amigo". E percebi o quão valor eles têm para mim e o quanto eu não o demonstro. Se eu pudesse, voltaria no tempo apenas para viver tudo outra vez.
Afinal, como diria Vinicius de Moraes, eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!


"Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa só.
Leva um pouco de nós e
deixa um pouco de si.
Há os que levam muito,
mas não há os que não deixaram nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso. "

Acaso, de Antoine de Saint-Exupéry

À Abdalla e a Fontanelli, que inventaram o "Viver Por Quem Vale a Pena"

Por Cláudio_DeLarge

Um comentário:

Anônimo disse...

neeeeeeeeeeeeeeem me fale. lembro de todos os dias do lado de vcs. Como eh dificil crescer.. oapkaoakpoakapoka amo vocês!